sexta-feira, 23 de setembro de 2016

CRISTÓVÃO JACQUES, O NAVEGADOR ESQUECIDO

Cristóvão Jacques (c. 1480-1530) foi um navegador português nascido no Algarve. Presume-se que teria ascendência aragonesa, sendo também conhecido pelo apelido de Valjaques. Apesar dos inestimáveis serviços prestados à coroa, nomeadamente na defesa das costas do Brasil e na colonização pioneira desse vasto território sul-americano, este grande marinheiro e capitão nunca teve a nomeada de um Cabral, de um Gama, nem sequer a de um Gil Eanes, de um Diogo Cão ou de um Bartolomeu Dias.  A História é assim, pródiga com alguns e ingrata com outros... Apesar dessa realidade, Cristóvão Jacques, que era filho bastardo, foi legitimado por el-rei D. João II e feito fidalgo por D. Manuel I, seu sucessor. Actos significativos, que demonstram o apreço desses soberanos por Jacques e o reconhecimento pela sua carreira e préstimos. Jacques esteve no Brasil, pela primeira vez, em 1503, integrado numa armada chefiada por Gonçalo Coelho. E, em 1516 foi colocado ao comando de dois navios (duas caravelas) incumbidos de patrulhar o litoral brasílico e de 'desencorajar' as incursões, cada vez mais frequentes, de corsários franceses. Tarefa que durou até 1519 e que o capitão português desempenhou com brilho, registando-se o facto de ter afrontado, vencido e aprisionado muitos navios e marinheiros gauleses na foz do Rio da Prata. Depois regressou ao Reino, por pouco tempo, já que -em Julho de 1521- recebeu ordens para zarpar para Pernambuco, onde fundou a feitoria de Itamaracá. Que passou a ser -naquele tempo- um dos ancoradouros mais seguros e frequentados do litoral brasileiro. Muito pelo facto de haver por ali abundância de pau-brasil. Incumbido de nova missão de guarda-costas, voltou à foz do Prata, para assegurar a soberania portuguesa sobre aquelas longínquas paragens. Em 1526, D. João III, que entretanto sucedera a seu pai, o rei 'Venturoso', atribuiu a Cristóvão Jacques funções administrativas no novo território, nomeando-o «governador das Partes do Brasil» (sic). Mas a vocação e aptitudes de homem de acção demonstrada anteriormente pelo supracitado, colocou-o, uma vez mais, em 1527, à frente de uma esquadra de guerra (constituída por uma nau e quatro caravelas) vocacionada para dar luta aos corsários e contrabandistas franceses. Depois de ter travado vários combates menores, Jacques atacou uma frota do adversário no Recôncavo da Baía, capturando-lhes três galeões. Este episódio, que é considerado o primeiro combate naval da marinha lusa no Brasil, terminou com actos de grande violência contra os franceses; o que lhe valeu cair em desgraça junto de D. João, terceiro do nome. Obrigado a regressar a Lisboa, Cristóvão Jacques ainda se notabilizou, por ter proposto ao monarca a organização de uma expedição (a expensas suas) para levar 1 000 colonos para povoar o Brasil. Isto, num tempo em que a colónia continuava a ser ameaçada pelas incursões de navios estrangeiros. Mas o rei, zangado, indeferiu a proposta de Cristóvão Jacques, uma figura importante da nossa História colonial, cujo nome entrou, há muito, no rol do esquecimento...

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