Francis Drake (1540-1596) e Robert Devereux (1565-1601) foram dois súbditos de Sua Majestade Isabel I de Inglaterra, que muito têm em comum. Foram, por exemplo, dois excelentes capitães de marinha que, entre outros grandes feitos, ajudaram o seu país a destroçar a Invencível Armada, preservando a Inglaterra de uma devastadora invasão. Foram, seguidamente, dois temíveis corsários, que -durante anos a fio- atacaram navios e territórios espanhóis (e, por via da união temporária dos dois reinos ibéricos, também portugueses), saqueando e matando. O primeiro deles era de origem plebeia, mas as suas aventuras marítimas, que tanto dinheiro trouxeram à coroa inglesa, valeram-lhe ser armado cavaleiro pela própria rainha e, por essa via, aceder à nobreza. O segundo era um fidalgo de alta estirpe (parente de reis), que usou o título de 2º conde de Essex. Em finais do século XVI estiveram ambos em Portugal : o primeiro deles, Francis Drake, saqueou Silves em 1587 e, de entre as muitas valiosas coisas que lá roubou, levou a rica biblioteca do bispo D. Fernando Coutinho. O segundo, o conde de Essex, também passou pelo Algarve, no decorrer de um raide ocorrido em 1596 e que teve como principal objectivo o saque da cidade de Faro. De onde ele deitou mão, entre outras preciosidades, à biblioteca de monsenhor D. Jerónimo Osório, bispo diocesano local. Esta última e inestimável colecção de escritos encontra-se, hoje, em Oxford, na Bodlelan Library, que é a segunda biblioteca mais importante do Reino Unido. É, pois de crer, que não há incompatibilidade entre a condição de ladrão e o gosto pela boa leitura...
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