segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A ESSÊNCIA DOS NOSSOS POETAS

///////////////////////////////////////////Terra

Onde ficava o mundo?
Só pinhais, matos, charnecas e milho
para a fome dos olhos.
Para lá da serra, o azul de outra serra e outra serra ainda.
E o mar? E a cidade? E os Rios?
Caminhos de pedra, sulcados, curtos e estreitos,
onde chiam carros de bois e há poças de chuva.
Onde ficava o mundo?
Nem a alma sabia julgar.
Mas vieram engenheiros e máquinas estranhas.
Em cada dia o povo abraçava outro povo.
E hoje a terra é livre e fácil como o céu das aves:
a estrada branca e menina é uma serpente ondulada
e dela nasce a sede da fuga como as águas dum rio.


Este poema foi escrito, em 1941, por Fernando Namora, e faz parte do «Novo Cancioneiro» . Também prosador, Namora (1919-1989), é autor de «Retalhos da Vida de Um Médico» (o título mais conhecido da sua obra literária), onde ele conta as suas experiências de homem -com preocupações sociais- e de clínico.

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