sexta-feira, 20 de junho de 2014
ASSIM VAI O MUNDO...
A Espanha tem um novo rei. Felipe VI foi, com efeito, coroado ontem, durante uma cerimónia realizada nas Cortes; que se quis mais discreta e contida do que seria de esperar em tais circunstâncias. No seu discurso, o novo soberano assumiu-se como símbolo da unidade de um país soberano e indivisível, «onde cabem todos». E prometeu honestidade, integridade e autoridade moral, virtudes que, nestes últimos tempos, têm faltado à monarquia e tanto a têm descreditado. Felipe VI -que dirigiu saudações a todos os povos de Espanha em castelhano, em catalão, em basco e em galego- jurou defender a Constituição e fazer respeitar os direitos de todos os cidadãos e das comunidades autonómicas. Tudo isto, não impediu, porém, que a forte facção republicana manifestasse nas ruas de Madrid o seu descontentamento e exigisse um referendo sobre um assunto que já não é novo : Monarquia ou República ? Muitos dos contestatários, interrogados pelos jornalistas presentes na capital espanhola, avançam um argumento que, quanto a mim, não tem fundamento; que é o dos gastos incorridos pela Casa Real, que custam milhões de euros por ano ao erário público. E eu não concordo, pelo facto, já provado, de que as funções do nosso presidente da República custarem incompreensivelmente muito mais (quase o dobro !) aos cofres do Estado. Sou republicano por profunda convicção, mas confesso (sem complexos) que nutro alguma simpatia pelo novo soberano de Espanha; que me parece ser um homem muito mais recatado e rigoroso do que seu pai e capaz de dar de Espanha (que aquilo que mais necessita, neste momento, é de paz social) uma imagem renovada.
As forças jiadistas do Iraque, lançaram, há semanas atrás, uma ofensiva imparável, que se saldou pela conquista de várias cidades importantes do país. E prosseguem o seu avanço sobre Bagdade, que é o objectivo final dos tais extremistas islâmicos. Toda a gente sabia (menos os estrategos dos Estados Unidos) que isto era inevitável, desde o malfadado dia em que George Bush Jr. deu o fatal pontapé num vespeiro chamado Sadam Hussein. Dessa aventura saiu derrotado um regime ditatorial e iníquo. Mas, pergunto eu, para ser substituído por quem e por quê ? Perante o que se vê, e na minha modesta opinião, por gente mil vezes pior do que o falecido déspota. A 'pax americana' nunca é duradoura e o modelo político imposto ao país não é exportável para aquelas bandas; só poderia ser transitório. Duraria, apenas, o tempo da ocupação militar do país pelas tropas ocidentais. O mesmo está a acontecer na Líbia, o mesmo acontecerá proximamente no Afeganistão e ocorrerá na Síria, se Assad for deposto. As tradições locais ligadas à detenção do poder nesses países são diferentes das nossas e a maioria dos habitantes desses lugares ainda não está preparada para viver em democracia, tal como nós, ocidentais, a concebemos e praticamos todos os dias. Estou convencido que só com o tempo e por iniciativa interna (sem imposição estrangeira) isso acontecerá. Entretanto, prosseguem os combates e as atrocidades. E continua o martírio de milhões de pessoas, cuja aspiração é só uma : viver em paz e em segurança. E não num país devastado pela guerra ou em terra alheia, em miseráveis acampamentos de refugiados.
A Taça do Mundo de Futebol terminou brusca e ingloriamente para 'la Roja', a campeoníssima selecção de Espanha. Depois do vexame sofrido contra os Países-Baixos e do desaire no jogo disputado com o Chile, os atletas espanhóis (por cansaço, segundo me pareceu) renunciaram ao ceptro e ao brilho que os distinguia e que fazia deles a mais temível formação nacional da modalidade. Mas (e esta é a minha opinião), desenganem-se aqueles que pensam que esta potência futebolística -campeã do Mundo e bicampeã da Europa- está acabada. A Espanha, nação com mais de 1/2 milhão de km2 e com mais de 40 milhões de habitantes, tem muitíssimas reservas e ressurgirá, muito brevemente, num dos lugares de liderança do chamado desporto-rei. É só uma questão de tempo. Quero também aqui dizer quanto achei injusto o tratamento infligido ao guarda-redes Iker Casillas; que, de um momento para o outro, passou de bestial a besta. Sem que tal se justifique. Este jogador -que começou a brilhar no plantel do Real Madrid com apenas 17 anos de idade- merecia mais respeito por parte dos adeptos de futebol e por parte dos jornalistas. Que parece não compreenderem o inevitável : todos os futebolistas, mesmo os mais dotados, têm o seu tempo de validade; e não escolhem, eles próprios, integrar os efectivos da selecção nacional.
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