Tive a oportunidade de ver ontem (na TV, pela primeira vez) o filme «OPERAÇÃO OUTONO», realizado, em 2012, por Bruno de Almeida; com produção de Paulo Branco e distribuição da Alfama Filmes. E digo, desde já, que gostei de ver este 'thriller' político baseado em factos que ocorreram aquando dos meus 20 anos e que eu, então, segui com grande interesse (*). Este excelente filme nacional, que relata os episódios que levaram ao infame assassínio do general Humberto Delgado -perpetrado pela PIDE, a tenebrosa polícia política do Estado Novo- é uma obra que, acho eu, deveria ser vista, no nosso país, por todos e muito especialmente pela nossa juventude; que me parece viver despreocupadamente, sem referências, sem memória, alheia a tudo sobre o seu próximo passado. Para além de narrar, com clareza, a cilada preparada e consumada -a 13 de Fevereiro de 1965- pelos esbirros de Salazar; que mataram o general e a sua secretária brasileira numa zona rural da província de Badajoz, este filme (que identifica e nomeia claramente os criminosos) também se debruça sobre a fantochada do julgamento dos pides, levado a cabo em Lisboa, no tribunal de Santa Clara, muitos anos depois do 25 de Abril e da gloriosa Revolução dos Cravos. Julgamento que, causou uma onda de sentida indignação no nosso país e que foi tomada como uma autêntica farsa, uma verdadeira ofensa, por todos aqueles (mas não só) que, em Portugal, sofreram prisões arbitrárias, torturas e vexames por parte da brutal máquina de repressão da ditadura. Já naquele tempo de ciladas e de traições, se dizia que Humberto Delgado era um homem de coragem, mas ingénuo e pronto a acreditar numa forma simplória de apear Salazar e de acabar com um regime odiado. O tempo veio dar razão àqueles que o preveniram, insistentemente, contra as manhas da PIDE; que lhe preparou uma armadilha fatal, na qual ele caiu por excesso de confiança. Isso nada retira, obviamente, ao seu patriotismo e ao mérito de ter lutado -com fé e com esperança- contra o governo de um Estado Novo, mais ou menos inspirado nas práticas defendidas pelos ditadores de Roma e de Berlim. Curiosidade : o elenco artístico desta película é encabeçado pelos actores John Ventimiglia, Nuno Lopes, Marcello Urgeghe, Carlos Santos, Pedro Efe, Ana Padrão, Diogo Dória e, surpreendentemente, no papel de um pide, chefe de posto fronteiriço, pelo fadista Camané.
(*) Em Janeiro de 1965, o autor destas linhas -acossado pela polícia salazarista, que viria a devassar-lhe a casa familiar (no Barreiro) já na sua ausência- decidiu evitar a prisão e outras 'chatisses' e seguiu para França. Crimes cometidos para justificar uma prisão que não ocorreu por um triz e explicar o exílio ? -Delito de opinião. Contestar a política do António das Botas e militar num grupo clandestino de oposição chamado Juntas de Acção Patriótica, vulgo JAP. Movimento que viria a chamar-se FPLN-Frente Patriótica de Libertação Nacional, que foi, lembro, uma organização ecuménica, onde coube toda a oposição ao regime; desde grupos de católicos progressistas até aos comunistas de Álvaro Cunhal. O general Humberto Delgado também fez parte dessa amálgama de anti-salazaristas, que teve a sua sede em Argel, como é referido no filme. Daí a emoção e a raiva que me assaltaram, quando, algum tempo depois da minha chegada a França, tomei conhecimento do crime odioso cometido contra as pessoas de Delgado e da sua secretária Arajaryr Campos. Nunca mais esquecerei esse acontecimento, que continua vivo na memória dos meus compatriotas daquele tempo...
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