Eu, que ainda sou do tempo em que os clubes de futebol rivalizavam, de maneira sã, sem desencadear histerias e inauditas guerras entre claques; Eu, que ainda sou do tempo em que os dirigentes das agremiações desportivas eram cavalheiros e não (salvo raras excepções) bestas quadradas e aventureiros sem dignidade, nem maneiras, ainda vi jogar o João Martins; que os aficionados (do jogo da bola) e a imprensa acabaram chamando o «sexto violino». Devido à sua classe de futebolista, equiparada à dos Travassos e dos Albanos, mas também pelo facto de -aquando da saída de alguns deles da famosa linha avançada sportinguista- o Martins ter sido a primeira e natural escolha do clube de Alvalade. Não vou traçar aqui a biografia deste atleta alentejano (Martins era natural de Sines), nem sequer lembrar aqui as suas vitórias desportivas, que foram muitas e que lhe granjearam grande prestígio e popularidade. O que eu quero mesmo dizer sobre esta figura de proa do nosso futebol -hoje esquecida, porque a glória é fugidia- é que cheguei a conhecê-la, durante os últimos anos da sua vida; que João Martins passou em Paris, longe da sua terra natal e dos seus familiares e amigos. Durante alguns anos, tive a ocasião de servir (no banco da capital francesa onde trabalhei) um cliente alto, magro, tímido, humilde, de poucas falas, que nunca se serviu da sua notoriedade passada, para dar nas vistas ou disso tirar qualquer proveito. Confesso que nunca reconheci nele aquele atleta excepcional que eu vira (como já disse) evoluir nos campos de futebol, nos pelados de Santa Bárbara e de D. Manuel de Mello, no Barreiro, aquando das visitas anuais dos leões. Foi um outro dos clientes da instituição bancária que me empregou durante 15 anos, o Dr. António Cajica Rapaz, também ele um ex-ídolo do futebol nacional (que jogou, ao que creio, na Académica de Coimbra, no Desportivo da CUF e no Belenenses), que, um dia, me revelou a sua identidade. O supracitado senhor, um ilustre filho de Sesimbra, também ele já falecido, era, ao tempo, director, em Paris, da Air Atlântida, a companhia 'charter' da TAP. E também era correspondente do jornal «Record». Lembro-me de, quando João Martins morreu, ele ter escrito um artigo de página inteira para esse órgão de informação desportiva, consagrado à glória do jogador transtagano. Isto passou-se há mais de 20 anos. E, apesar de eu não ser sportinguista, são recordações que muito prezo. Martins foi um dos grandes nomes do futebol português e, na galeria dos praticantes alentejanos do chamado desporto-rei, só pode emparceirar com figuras como Canário, também do S.C.P., ou como Patalino, do Lusitano de Évora, atletas que eu também já evoquei neste blogue.
Nesta fotografia que mostra o 'team' do Sporting -campeão nacional da época 1950-1951- João Martins está agachado à direita de Travassos, que segura o troféu.
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