sábado, 24 de agosto de 2013

RECORDAÇÕES (4)

Durante 15 anos, este cruzamento de ruas fez parte da minha vida. A artéria mais movimentada (na fotografia) é a rua Scribe e a que aqui tem menos trânsito automóvel é a rua Auber. Ambas situadas no coração do 9º bairro de Paris, a escassas dezenas de metros do famoso teatro de ópera (Salle Garnier) e das grandes e prestigiadas superfícies comerciais (Galleries Lafayette, Printemps, etc) do 'boulevard' Haussmann. Era (e é) uma zona de intensa actividade comercial e, por essa razão, muito cosmopolita. Trabalhei num banco, cuja entrada se pode ver nesta fotografia, no canto inferior direito. Na rua Scribe (ali onde a movimentação de veículos é mais densa) estava instalada a representação do Turismo de Portugal... Lembro-me que, num raio de 300 metros do meu local de trabalho, havia à volta de 100 restaurantes, servindo cozinha do todos os países da Terra; o que para mim, que sou guloso e amigo de fazer experiências gastronómicas, era o paraíso. Também havia por lá 3 ou 4 restaurantes lusos. Lembro-me, com particular saudade, do «Marquis de Pombal», na rua do 4 de Novembro, onde se podiam saborear bons pratos da cozinha portuguesa e uns excelentes vinhos nacionais. As minhas preferências (mái-las dos meus colegas de trabalho, o Rui P. e o Jorge M.) iam, então, para um «Quinta do Cotto», uma pomada da região do Douro, de beber e chorar por mais. No que respeita as comezainas, eu e os supracitados vivemos ali aventuras memoráveis. Recordo-me, uma vez (numa tarde de descanso, o que era raríssimo), de termos ido a um restaurante da rede «Bistrot Romain», que nesse dia servia, à descrição, 'carpaccio' de salmão fumado e saladas. E de só termos arrancado de lá, a horas tardias e por causa de um comboio que dois de nós tínhamos imperativamente que apanhar (por volta das 16 horas) na gare Saint Lazare, ali mesmo em frente. Isto, perante o visível desespero dos empregados de mesa, que bufavam e que, intimamente, deviam pedir a Deus e ao diabo para que os brutamontes que lhes saíram na rifa, nesse dia, desandassem o mais rapidamente possível. Devido à centralidade do nosso banco, vinha ali muita gente anónima (obviamente), mas também pessoal famoso. Estou a lembrar-me de pessoas que por lá vi, como Agustina Bessa Luís, o marechal Costa Gomes, Fialho Gouveia, Nuno da Câmara Pereira, Júlio Pomar, João Havelange, Patrice Dupont (dançarino estrela da Ópera de Paris e cliente assíduo do nosso posto de câmbio), Miguel Trovoada (que seria presidente da República de São Tomé e Príncipe), os membros do grupo Madredeus, Paulo Rocha (o realizador do filme «Verdes Anos»), Carlos Lopes (o maratonista, que era nosso colega), uma princesa da Casa de Bragança, etc, etc. A centralidade do banco que me empregava tinha outra vantagem, acentuada pela proximidade de estações do metro e do RER : vantagem que me permitia chegar -em apenas 5 minutos- ao topo da avenida dos Campos Elíseos, junto ao Arco do Triunfo, e a outros sítios interessantes da 'Cidade-Luz, como, por exemplo, 'aux Halles', junto ao Centro Pompidou, ao Museu do Louvre ou à praça da Concórdia. Facto que me permitia explorar -durante a minha hora do almoço- lugares que eu considerava bastante interessantes. E que o eram, na realidade. Enfim, tempos que já lá vão, com momentos bem passados, mas também com instantes mais penosos; porque trabalhar não é (pelo menos para mim nunca foi) tarefa fácil ou divertida. Mas, quanto a isso, tenho a certeza de ter cumprido o meu dever -durante quase quatro décadas- da melhor maneira que pude e soube. Sem defraudar ninguém. (Clicar na fotografia para a ampliar).

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