Em 1935, o governo de Portugal adquiriu, em Inglaterra, um dos mais velozes aviões desportivos do seu tempo; para o lançar numa operação de propaganda, que devolvesse ao nosso país e à ditadura vigente algum prestígio internacional. O aparelho em causa, um De Havilland DH.88 'Comet', que havia participado no ano precedente, na famosa England-Australia Race (corrida aérea disputada entre Londres e Melburne, foi, pois, preparado para que dois dos nossos mais famosos aviadores, Carlos Bleck (civil) e Costa Macedo (militar), pudessem bater um recorde de velocidade na travessia do Atlântico, entre Lisboa e o Rio de Janeiro. Ao avião em causa (outrora chamado 'Black Magic'), foi dado o novo nome de 'Salazar', para que, sobre o ditador, também recaíssem os louros colhidos pela façanha a cometer. Apesar de adquirido com dinheiros do Estado e de ter sido integrado nos efectivos da Aeronáutica Militar, o aparelho recebeu uma matrícula civil (CS-AAJ) e uma marca identificadora (uma simples Cruz de Cristo) algo diferente da insígnia oficial da aviação de guerra portuguesa. A partida para o raide transatlântico foi marcada para dia 13 de Março de 1935, no aeródromo da Granja do Marquês. O sinal de partida foi dado de manhã cedo, e, à hora marcada, o DH-88 'Salazar' lançou-se voluntariosamente na corrida que precede o voo. Depois de ter rolado algumas dezenas de metros, o avião foi traído por um problema no trem de aterragem, que quebrou. Os hélices bateram violentamente no solo e torceram-se. E a aventura ficou-se por ali, ingloriamente, por terras de Sintra. Os pilotos (ambos com pergaminhos na aviação lusa e naturalmente decepcionados) renunciaram ao projecto. A História não o refere, mas é fácil presumir que o então «dono disto tudo» também tenha ficado desapontado. Afinal, lá se fora o momento de glória internacional que ele esperava, para disfarçar a impopularidade crescente do Estado Novo...
O De Havilland DH.88 'Comet' era um monoplano bilugar (em tandem) de asa baixa. A sua estrutura compreendia peças de revestimento em contraplacado. Técnica que, ao que se sabe, foi, mais tarde, utilizada na realização do temível 'Mosquito', o mais rápido de todos os bombardeiros ligeiros da 2ª Guerra Mundial. O DH.88 estava equipado com 2 motores DH Gipsy Queen Six (com uma potência unitária de 260 hp), acionando hélices metálicas de 2 pás de passo fixo. Eis aqui as suas outras características :
Envergadura - 13,41 m
Comprimento - 8,84 m
Altura - 3,05 m
Superfície alar - 19,69 m
Peso máximo à descolagem - 2 413 kg
Velocidade máxima - 381 km/h
Velocidade de cruzeiro - 354 km/h
Tecto operacional - 5 790 m
Raio de acção - 4 707 km
Tripulação - 2
Curiosidade : depois do raide falhado de 1935, e não lhe encontrando aplicação militar, as autoridades remeteram o 'Salazar' para um hangar, onde, durante muitos anos, esteve esquecido. Parece que foi redescoberto em 1979 e cedido a uma associação britânica de gente apaixonada pela aeronáutica, que o levou para Derby (GB), onde é tentada a sua recuperação. Ignoro se o restauro do aparelho em questão foi levado a cabo.
A maquete acima, representa o avião em causa, na época em que este DH.88 participou na já referida corrida Londres-Melburne. E que ele, também devido a avaria, nunca chegou a terminar.
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