domingo, 10 de abril de 2016
OUTROS TEMPOS, OUTRAS PRÁTICAS...
Lembro-me de um tempo -quando eu ainda era uma criança- em que toda a gente capturava ou matava, sem discernimento, as variadas espécies de passarinhos da nossa avifauna. Que, geralmente, iam parar às gaiolas (as de canto mais melodioso) ou às frigideiras e espetos dos amadores de petiscos. Nesse tempo nada escapava à fúria e à gula de gente insensível à protecção das espécies e que dizimava a passarada do nosso país, sem dó nem piedade, com a ajuda de armas de fogo, de fisgas, de redes, de visgo, de armadilhas e de outros artefactos. Lembro-me, por exemplo, de um dos meus avôs (que, como todas as pessoas da sua geração, não tinha a mínima preocupação ecológica) disparar a matar para uns choupos e atirar abaixo, de uma só vez, uma dezena de abelharucos. Sob o pretexto de que «eram de muito bom sabor» e que, para além disso, os ditos pássaros se alimentarem das abelhas de umas colmeias da herdade onde ele era feitor e zelador dos interesses do patrão. E recordo-me de, inconscientemente, eu ter participado em festins gastronómicos à custa dessas inocentes criaturas. Hoje, felizmente, os tempos e as coisas mudaram. As pessoas habituaram-se a respeitar a Natureza e já vivem harmoniosamente com as espécies que outrora sistematicamente perseguiam. Até porque agora há leis que as protegem e que punem severamente aqueles (já muito poucos) que ainda recorrem a práticas ancestrais desajustadas. E ainda bem que assim é. Hoje tenho pena dos abelharucos que o meu avô Miguel chumbou e que eu, quando menino, ajudei a devorar...
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