Ano de 1944 : após uma ocupação militar humilhante, que durou vários anos, a França foi libertada pelas tropas aliadas (sobretudo norte-americanas, canadianas e britânicas) que -a 6 de Junho- investiram vitoriosamente as praias da Normandia; e que, após violentos combates e o sacrifício de muitos milhares de mortos, fizeram recuar os exércitos nazis até aos confins da Alemanha. De uma Alemanha destruída por terríveis bombardeamentos aéreos e apanhada pela implacável tenaz formada pelas forças ocidentais supracitadas e pelos efectivos do temido Exército Vermelho do marechal Jukov. Que haveriam de conquistar Berlim (no dia 1º de Maio de 1945), a capital do 3º Reich. Depois deste introito, lembro-me que, afinal, do que eu queria falar neste 'post' (muito brevemente, como é óbvio), era de um dos dramas mais pungentes do pós-libertação da França : o da sorte reservada -pela generalidade dos franceses- às mulheres que praticaram aquilo a que eles chamavam, naqueles conturbados tempos, 'la collaboration allongée avec les boches'. Enfim, quero-me referir à violência histérica (e histórica) da qual foram alvo as mulheres que, durante a longa presença alemã, tiveram relações íntimas com os militares inimigos. Nesses dias agitados. essas mulheres (tivessem elas agido por amor, para assegurar a própria sobrevivência, para garantir o bem-estar dos seus em tempos de fome ou por razões menos justificáveis) foram objecto de brutalidades sem nome, por parte de gente que dizia agir patrioticamente e para devolver à França a honra perdida. Esse tempo foi, na realidade, uma época de atropelos à mais elementar justiça, que nunca foi vista nem achada aquando das torturas físicas e morais que foram infligidas às tais mulheres. Às vezes, por resistentes da última hora, cuja legitimidade assentava no simples facto de usaram uma braçadeira de um dos movimentos de partizans e de empunharem uma pistola. Naturalmente que não estou aqui a defender o colaboracionismo e a denegrir aqueles que nunca se vergaram à vontade dos ocupantes. Nem a estigmatizar os franceses em geral. Até porque actos desta natureza -que envolviam espancamentos, tosquiamentos, desfiles de mulheres nuas sobre as quais se lançavam injúrias e escarros, etc, etc- foram comuns a todos os países libertados da opressão nazi. Só estou aqui a dizer -com a frieza de alguém que observa os acontecimentos com um recuo de 70 anos- que esses 'linchamentos' na praça pública foram terríveis e causaram traumas -sobretudo nos filhos inocentes dessas uniões então consideradas pecaminosas e antipatrióticas- que perduram. Vem este meu palavreado a propósito de uma canção de Gérard Lenorman, que acabei de ouvir e da qual eu muito gosto, que se intitula «Warum Mein Vater ?». Cuja letra aqui deixo integralmente. Convém ainda dizer que o artista supracitado, nascido em 1945, é fruto da união (proibida) entre uma jovem francesa e um soldado alemão desconhecido. E que essa realidade marcou o cançonetista para toda a vida. Ao ponto de, com muita franqueza e com muita coragem intelectual, ele ter decidido romper o silêncio sobre as suas origens. Curiosidade : a fotografia anexada é da autoria do famoso repórter de guerra norte-americano Robert Capa e mostra uma mulher (aqui, por sinal, uma verdadeira colaboradora, militante de um partido pró-nazi) envolvida por uma multidão hostil. A foto em questão foi tirada em Agosto de 1945 e é conhecida pelo título «La Tondue de Chartres».
«WARUM MEIN VATER ?» (Pourquoi Mon Père ?)
En février quarante cinq, je suis né
Petit village de province, libéré
La jeune fille en crainte, délivrée
Jeté comme une lettre, un colis de promesses
Sans timbre et sans adresse!
Ma mère s´est débrouillée comme elle pouvait
J´étais les suites d´un homme du passé
Ses petits emplois de bonne, suffisaient
C´était pas la misère
Mais les amis de ma mère,
J´en avais rien à faire
{Refrain)
Warum mein vater
Traîne dans mon cœur
Warum mein vater
Mon enfance pleure
Warum mein vater
Traîne dans mon cœur
Warum mein vater
Mon enfance meurt
Aujourd´hui j´ai un fils blond comme les blés
Le jeu des générations a gagné
Mais resurgissent les questions, oubliées
Auxquelles personne ne répond
Alors je me suis fait un nom
Que mes enfants porteront
{Refrain}
Warum mein vater
Traîne dans mon cœur
Warum mein vater
Mon enfance meure
Mon enfance meure.
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