quinta-feira, 2 de maio de 2013
FILME SUBLIME
Ontem apeteceu-me rever uma película que já não via há muitos anos. Uma fita que os críticos de cinema (e muitos cinéfilos ordinários, como eu) consideram uma das mais belas histórias de amor ocorridas em tempo de guerra. Estou-me a referir à obra-prima de Mikhail Kalatozov «Quando Passam as Cegonhas». Apesar de já ter visto esta obra meia dúzia de vezes, ainda assim me emocionei com o curto idílio vivido, no ecrã, por Tatiana Samoilova (no papel de Verónica) e Alexei Batalov (no de Boris). A acção deste maravilhoso filme russo começa em Moscovo, no ano de 1941, quando as hordas germânicas invadem (sem declaração de guerra) o território da União Soviética e Boris se alista no exército vermelho. Para acabar por desaparecer no turbilhão desse trágico conflito. Depois da vitória, Verónica, que, na ausência prolongada do namorado, acaba por casar com outro, vai à estação de caminhos-de-ferro com um braçado de flores esperar aquele que ela ainda ama. Mas, ali, recebe a confirmação da morte de Boris na frente de combate. E, numa homenagem àquele que perdeu, mas também a todos os que se bateram pela mãe-pátria, distribui, entre lágrimas, as flores que cingia ao peito pelos sobreviventes de uma guerra avassaladora. Que tudo lhe levou. Contado assim, de maneira condensada e pouco hábil, pensará quem me lê que «Quando Passam as Cegonhas» é apenas e simplesmente um melodrama. Sem outro conteúdo. Desenganem-se, porém, os incautos. Esta película é muito mais do que isso. Rodado em 1957, em pleno período do degelo estalinista, este filme é, para além do drama patético e doloroso que se adivinha, uma obra inteligentemente romântica, que também deu que falar pela sua audácia técnica. Que tanto impressionou os especialistas ocidentais. Os actores são todos excelentes, a começar por Tatiana Samoilova, que, de um momento para o outro, se tornou na actriz preferida da população da U.R.S.S. e também muito apreciada no mundo ocidental, sobretudo na Europa. Não creio que este filme tenha tido edição DVD entre nós. O meu videograma foi adquirido em Espanha por 7 miseráveis euros. Só é pena não ter legendagem na nossa língua. Mas pode ser seguido em castelhano ou na versão original com legendagem na língua de Cervantes. Os extras são muito ricos, pois contêm (entre outras coisas interessantes) um documentário sobre a actriz principal, as recordações de Alexei Batalov sobre o filme e, curiosamente, o desfile militar de 1941 na Praça Vermelha.
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