sábado, 25 de maio de 2013
PROFISSÕES DE OUTROS TEMPOS
Os velhos como eu (que conto quase 70 invernos) vivem muito de memórias. Afinal, aquilo que o 'celebro' ainda não atirou às urtigas -as lembranças- já são o nosso mais precioso capital. Tudo o resto são banalidades... Embora, diga-se em abono da verdade, ainda nos preocupemos com as soturnas figuras do Passos e do Gaspar, que nos vêm aos bolsos, insistentemente, roubar aquilo que ganhámos, com sacrifício, ao longo de toda uma vida de árduo labor. Isto dito, quero aqui deixar algumas imagens de tempos idos, durante os quais imperava a dureza imposta pelo Tonho de Santa Comba, outro figurão da política que, a seu modo, também nos fazia a vida negra. Com a desvantagem, para nós, de ir enchendo as cadeias com contestatários como eu. Com gente que punha em causa a legitimidade do seu poder absoluto e iníquo. Nesse tempo o analfabetismo era quase generalizado e muitos portugueses sobreviviam exercendo profissões que hoje, praticamente, já não existem. Tais como a de fotógrafo ambulante, guarda fiscal ou merceeiro. O primeiro percorria ruas e parques à procura de alguém que (por necessidade ou capricho) se deixasse retratar 'a la minuta'. Com a sua enorme câmara às costas, este homem ganhava dificilmente a sua vida e o sustento da família. Já o guarda fiscal era (quase) um privilegiado. Era funcionário público e o seu salário, embora modestíssimo, era assegurado pelo estado. Alguns deles compensavam, no entanto, o magro ordenado mensal, com alguns géneros (bacalhau, garrafas de azeite, café, etc) e com umas notitas de 20$00, que lhes iam dando os contrabandistas e outros espertalhões da época, a cujas traficâncias ele fechava oportunamente os olhos. Enfim, o terceiro, o merceeiro, era aquele que melhor se safava na selva de sobrevivência dos anos 40, 50 e 60 do passado século. Comprava os produtos que consumia (e comerciava) a preços de revenda, o que era uma vantagem em relação à sua freguesia. Freguesia que comprava fiado e frequentemente o cravava com dívidas que não podia honrar. Eram os duros tempos do rol e do lápis, do papel pardo para embrulhar meia quarta de chouriço e das garrafas que se traziam de casa para levar um decilitro de azeite ou um litrito de 'pitrol' para o candeeiro. Bravos tempos esses, dos quais só restam (más) recordações e a nostalgia dos nossos verdes anos. Para além, obviamente, de algumas imagens...
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