No nosso país, não há tradições de produção e consumo de cidra. Pese o facto de nós termos regiões (algures no norte e no centro de Portugal) propícias -pela natureza do seu solo e do seu clima- à implantação de campos de macieiras-cidreiras. Talvez essa 'falha' se deva a razões puramente económicas, visto o plantio da vinha ser, sem dúvida, uma actividade mais rentável, proporcionadora de maiores lucros... Digo eu : é pena, porque a cidra (proveniente da fermentação de maçãs) é uma bebida deliciosa, barata e saudável. E, em relação ao vinho, tem a vantagem de oferecer um índice alcoólico mais fraco. Descobri a cidra, na Normandia (França) no ano de 1965; numa região onde essa pinga era, então, a bebida de todos os dias. A tal ponto, que, nesse tempo e nesse lugar, ela era muito simplesmente chamada 'la besson', a bebida , no inconfundível 'patois' local. Nessa época e nas classes menos abonadas da sociedade normanda (já lá vai mais de meio século...) o vinho era coisa fina, só para consumir aos domingos e dias festivos. Mais perigoso, era (e é) o produto destilado da cidra, uma aguardente comummente chamada 'calvados' ou mais simplesmente 'calva', que pode atingir um grau alcoólico deveras elevado. E que, convém, naturalmente, consumir com muita, muita moderação. Quase cinco décadas de vivência no noroeste de França, conferiram-me alguns hábitos e saberes próprios de um estrangeirado; mas eu tomo isso como uma mais valia da minha formação humana e da minha maneira de olhar o mundo e de conviver com os outros. E até na sociedade (por vezes quase hermética) da Normandia da segunda metade do século XX eu consegui construir relações duradouras. O que não era fácil para quem vinha de fora e se arreigava (o que não era o meu caso) a costumes e regras comportamentais distintas.
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