O estreito de Gibraltar é, ainda hoje, uma das mais importantes vias marítimo-comerciais do hemisfério norte. Com uma História milenar, por ali passaram as frotas fenícias, gregas, romanas, que implantaram colónias civilizacionais na península Hispânica, nomeadamente no território que é hoje Portugal. Foi também por aquela via -que separa fisicamente a Europa da África- que chegaram, no século VIII, à Ibéria, os exércitos berberes de Tárique, que derrubaram o poder visigótico e que nos trouxeram a luz de uma nova civilização. Que nos ensinou tantas e tão inovadoras coisas, que seria fastidioso evocar aqui. Gente que seria escorraçada, séculos mais tarde e pelo mesmo caminho, por razões essencialmente religiosas. Mas que deixou um rasto benéfico, positivo, quer se queira ou não. Foi nos mares de Gibraltar que -a Leste ou a Oeste do estreito, na Europa ou no norte de África- se travaram batalhas que seriam decisivas para o destino das nações e do mundo. Foi, por exemplo, na península de Almina, onde se ergue a cidade de Ceuta, que os Portugueses inauguraram (em 1415) o ciclo das conquistas além-mar e que, dali, se projectaram para o mundo, na execução de um projecto colonial que durou (para o bem e para o mal) até meados dos anos 70 do século XX. Passando sobre detalhes, sobre episódios de menor alcance histórico, realce-se que foi ali que, a 21 de Outubro de 1805, ao largo da ponta de Trafalgar, se jogou a sorte da Europa, com o esmagamento da frota franco-espanhola (que servia as pretensões hegemónicas de Napoleão Bonaparte) por uma armada da 'Royal Navy', colocada às ordens de um grande capitão chamado Horácio Nelson. Foi, igualmente, nesta zona do globo, geograficamente tão perto de nós, que, durante a Segunda Guerra Mundial, se contrariaram -graças à importância estratégica da base britânica de Gibraltar- as veleidades das duas potências europeias do Eixo, que apostaram no Mediterrâneo como uma espécie de trampolim para dominarem toda a região sul do nosso continente e todo o norte de África. Lembro-me de, aqui há uns bons anos atrás, ter sobrevoado (durante um voo entre Las Palmas de Gran Canária e Paris) uma zona de onde se podia observar o estreito e de ter, nessa ocasião, experimentado uma enorme excitação pelo que, então, vi. Que correspondia, mais ou menos, ao que mostra este mapa em relevo que aqui vos deixo. Foi uma ocasião única; mas que eu gostaria de ter repetido, fazendo uma viagem terrestre por aquelas bandas. O que nunca aconteceu, pelo facto de ter sido apanhado pela velhice e pelas maleitas que lhe estão adstritas. Mas também, sejamos francos, pelo facto de ter sido uma das muitíssimas pessoas coagidas, pela falta de dinheiro para festas (maldita crise !), a ficar a ver navios...
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