segunda-feira, 27 de julho de 2015

LEMBRANDO «SEARA DE VENTO»

«Certa tarde, a aparente quietação rasga-se, de súbito, nos gritos espavoridos de Júlia. Acudindo de longe, o Palma vem encontrar o velho dependurado na trave do casebre. Apenas o Bento, desde o princípio, assiste a tudo, sentado no terreiro. Tonto, baloiçando o tronco e sorrindo, não desfita o avô, já hirto, para lá da porta escancarada».

Esta prosa é da autoria do escritor Manuel da Fonseca (1911-1993) e pertence ao seu livro «Seara de Vento»; que muitos críticos e leitores não hesitam em classificar como uma das obras mais marcantes da nossa literatura do século XX. O autor situou o contexto deste seu romance no Alentejo dos difíceis anos 50; num tempo em que a injustiça dos agrários e a repressão policial (apoiadas pela hierarquia da Igreja Católica) se abatiam impiedosamente sobre as populações rurais. Sobretudo sobre aquelas que ousavam romper a barreira do medo levantada pelo salazarismo de triste memória e gritavam a sua indignação. O drama descrito por Fonseca em «Seara de Vento» inspirou-se, aliás, num violento e verídico acontecimento, que teve lugar, duas décadas atrás, no Alentejo. Região que o autor tão bem conhecia, até por dela ser originário. Aqui há uns anos atrás, emprestei este livro -que muito estimava- a um amigo, que fez o favor de não me o devolver. Certamente por, também, muito o ter apreciado... Enfim, que lhe faça bom proveito ! Mas eu tenho vontade de mergulhar, de novo, nas páginas de «Seara de Vento». Um livro tão útil para lembrarmos o passado e até para compreendermos os tempos que correm... Qualquer dia, quando estiver mais abonado, volto a comprá-lo.

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