RESPONDENDO A UM AMIGO QUE O QUESTIONAVA
SOBRE A SUA VIDA NA CADEIA
Casinha desprezível, mal forrada,
Furna lá dentro, mais que inferno escura;
Fresta pequena, grade bem segura;
Porta só para entrar, logo fechada;
Cama que é potro, mesa destroncada,
Pulga que, por picar, faz matadura;
Cão só para agourar; rato que fura;
Candeia nem cos dedos atiçada;
Grilhão que vos assusta eternamente,
Negro boçal e mais boçal ratinho,
Que mais vos leva que vos traz da praça;
Sem amor, sem amigo, sem parente,
Quem mais se dói de vós, diz: «Coutadinho».
Tal vida levo. Santo prol me faça.
** D. Francisco Manuel de Melo (1608-1666), prosador e poeta, militar e diplomata luso-espanhol **
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