terça-feira, 31 de dezembro de 2013
NOS TEMPOS DA OUTRA SENHORA...
De vez em quando aparecem, na Internet, campanhas que têm -como objectivo fundamental- reabilitar a sinistra figura de António de Oliveira Salazar, o ditador de triste memória, que espezinhou Portugal durante várias décadas. Desta vez, circula por aí uma vinheta avulsa com a imagem e o texto aqui reproduzidos. E que eu quero comentar brevemente, porque tenho uma ideia precisa sobre o homem e o seu regime; que me foram impostos durante 19 longos anos da minha vida. Diz o texto em questão o seguinte : «No meu tempo não havia greves e toda a gente trabalhava...». Pura mentira ! Havia greves, que eram reprimidas com sangue e com muita pancadaria pela antecessora da PIDE, pela GNR e por outras forças militares ou militarizadas, afectas ao regime. Nos anos 50 e 60 do século XX, no Barreiro, onde eu então vivia, toda a gente ainda se lembrava das greves e manifestações populares ocorridas em 1943 e que terminaram com agressões torpes, com prisões de operários da CUF (empresa onde eu trabalharia muitos anos mais tarde) e com despedimentos colectivos. Mas outras greves e protestos ocorreram no país, sobretudo nas vilas e cidades industriais. Quanto ao trabalho para todos, posso dizer que tal afirmação é falaciosa. No Portugal do tempo havia muita fominha provocada pelo facto de não haver abundância de trabalho e de os poucos empregos disponíveis serem miseravelmente remunerados. Também no mundo rural foram organizadas greves de trabalhadoras, tendo sido, muitas delas, esmagadas de maneira brutal. Ocorreram, sobretudo, nos campos do Ribatejo e do Alentejo, onde o sangue correu mais do que uma vez. Diz ainda o panfleto em apreço que «...Havia educação, paz, respeito e ordem». Mentira ! A paz e a ordem eram impostas pelas baionetas e a educação dos Portugueses desse tempo é pura aldrabice. Aliás, como era possível tal estado de coisas num país com 60% de analfabetos ? A maioria dos Portugueses do tempo de Salazar era, isso sim, gente submissa e, regra geral, amedrontada. Porque todos sabiam que, pisando o risco traçado pelas leis fascistas, iriam sofrer as consequências impostas por um regime de terror. Que eu bem conheci e que, por essa razão, me cabe aqui denunciar. Veementemente !
E, já agora, quero também deixar aqui uma amostra (publicada aqui há uns meses atrás nas páginas de um conhecido semanário) demonstrativa daquilo que era o 'paraíso' salazarista. Se ampliar a imagem poderá ler um elucidativo texto sobre as escolas da ditadura nos anos 40.
Para finalizar, quero ainda aqui deixar uma foto de Salazar (à esquerda) com 'aquele abraço' dado ao único amigo que lhe restou, na Europa, depois do fim da 2ª Guerra Mundial e das subsequentes quedas de Hitler e de Mussoulini : Franco, o ditador vizinho; que foi o principal protagonista de uma sangrenta guerra civil, que fez (segundo alguns historiadores) perto de 1 milhão de mortos.
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