terça-feira, 29 de outubro de 2013

RECORDAÇÕES (8)

Acossado pela PIDE (que foi a minha casa, para me prender, em Fevereiro de 1965), procurei em França aquele ar de liberdade que o salazarismo sempre negou aos Portugueses. Por lá continuei a militar, durante uns anos, numa organização de resistentes exilados, que, ao tempo, estava sedeada em Argel; capital de uma nação que conquistara, recentemente, a sua  independência, após muitos anos de luta sangrenta contra a potência colonial. Que, paradoxalmente, era a França, para onde muitos perseguidos fugiam para viver sem entraves e para dispor de condições de vida decentes. Lembro-me de ter participado (enquanto membro da antena local dessa organização multipartidária) na Festa de 'l'Avenir', organizada nos arrabaldes de Rouen, por um grande partido da esquerda francesa; que, hoje, perdeu a projecção e a importância que tinha nos idos de 70. Para além de ser um evento (anual) de promoção do partido político em causa -onde eram debatidas as grandes linhas do momento- essa festa era também um grande acontecimento cultural, com exposições, com conferências, com venda de livros, com concertos (de algumas grandes vedetas da canção francesa, entre outras), etc, etc. Já não me lembro em que ano se passou aquilo que aqui vou narrar. Sei, no entanto, que foi depois do 25 de Abril. Talvez em 1975 ou 1976... Recordo-me que, na tarde de certo dia dessa festa (que se desenrolava durante um fim-de-semana), apareceu no nosso 'stand' um dos responsáveis pela organização da dita para me convidar, a mim e a outros compatriotas, a participar num 'cocktail' oferecido em honra de uma personalidade ilustre. Que fora convidada (à última hora) para participar no evento. E lá fui eu mái-los meus companheiros, beber um copo à saúde da distinta dama (tratava-se de uma senhora), que era, calculem os leitores deste blogue, Valentina Tereskova, o primeiro cosmonauta do sexo feminino a viajar no espaço sideral. Lembro que a senhora em questão (que, ao tempo, era coronel da aviação militar soviética) era uma bela mulher e que vestia, com elegância, um vistoso 'tailleur' azul. O que é curioso, visto eu ser alguém que nunca presta atenção a esse tipo de detalhes. Tive a ocasião de falar, brevemente, com Valentina Terechkova e de trocar com ela (tenho testemunhas disso) algumas palavras em língua portuguesa. É que a ilustre cosmonauta estava de passagem por França (a caminho da URSS), em proveniência do nosso país; onde ela passara uns dias a convite de uma organização de mulheres portuguesas ligada ao P.C.P.. Presumo, pois, que tenha aprendido algumas frases de circunstância, aquando dessa sua viagem a território luso. Outra coisa que recordo é de ver a bela Valentina rodeada de funcionários soviéticos, que serviam, simultaneamente, de intérpretes, de guarda-costas e que condicionavam os seus movimentos e palavras. O que, então, até me pareceu normal, visto a importância e a agenda dessa excepcional embaixadora da União Soviética. Já agora quero lembrar que Valentina Terechkova (que nasceu em 1937) ganhou fama com a viagem espacial que efectuou -a bordo de uma cápsula colocada em órbita pelo foguetão Vostok VI- entre 16 e 19 de Junho de 1963, durante a qual ela realizou 48 revoluções completas do planeta Terra.

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