terça-feira, 17 de setembro de 2013
RECORDAÇÕES (5)
Nos primeiros anos da década de 60, do passado século, minha mãe teve um lojeca de roupas e de retrosaria num bairro da periferia do Barreiro; bairro esse que, com a velhinha e histórica Telha, deu origem àquela que já foi a freguesia de Santo André. Freguesia que, apesar de contar com cerca de 12 000 habitantes, foi extinta, este ano, pela coligação presidida pela sinistra equipa Portas, Coelho & Companhia Limitada. Enfim, limitada por notória falta de competência e de sensatez. Para abastecer os 'stocks' da tal lojeca, minha mãe recorria aos armazéns de revenda existentes no Martim Moniz, em Lisboa, e levava-me consigo (nessas suas frequentes idas à capital) para eu alancar (passe o termo) com a mercadoria. O que era bem natural, visto a sua figura de mulher franzina, embora intimorata, a proibir de levantar o peso das compras. Recordo-me, pois, perfeitamente das visitas a armazéns como o «Parque das Malhas», mostrado pela fotografia anexada, e de outros similares da mesma praça. Que era, então, um lugar da Baixa lisboeta mais ou menos degradado, sobretudo na sua parte norte, que apresentava muitos prédios num estado de conservação mais que lastimável, onde se alojavam lisboetas com parcos recursos económicos. Passei por lá há pouco tempo. A paisagem da praça Martim Moniz é, agora, totalmente diferente da desse tempo da minha adolescência. É um espaço amplo, arejado, com fontes e esplanadas, ao qual foi devolvida a dignidade que merece essa zona da cidade. Outra coisa que também mudou foi a minha capacidade física. Naquele tempo eu era, como diz o outro, uma águia que percorria, sem esforço, as ruas, avenidas, ruelas e escadinhas de Lisboa sem me cansar. Agora, com quase 70 anos 'no papo' -a chamada 'idade do condor' (com dor aqui, com dor ali)- e com um preocupante excesso de peso, Lisboa já me fatiga excessivamente. A tal ponto que vou espaçando as minhas visitas àquela que eu considero uma das mais bonitas cidades da Europa. Recordo-me, igualmente e com particular nostalgia, que, naquele tempo das idas frequentes aos armazéns de revenda lisboetas, a parte de que eu mais gostava era a da travessia do Tejo. Que, nesse tempo, se fazia em meia hora a bordo de um dos três 'barcos do Barreiro', que pertenciam à C.P. e que ostentavam os nomes de «Évora» (o mais bonito e o mais rápido), «Alentejo» e «Trás-os-Montes». Geralmente, instalávamo-nos no convés superior, de onde se podia desfrutar de vistas fabulosas sobre o estuário e, ao aproximarmo-nos da capital, de regalar os olhos com o espectacular casario de Lisboa, de onde, ali e acolá, despontavam alguns dos seus mais emblemáticos monumentos; como, por exemplo, a Sé e outras conhecidas igrejas, o castelo de São Jorge, a estátua equestre de D.José I e o Arco da rua Augusta, etc, etc. Apesar dos tempos serem o que eram -os da ditadura salazarenta- lembro-me com saudade dessa época. Sem dúvida pelo facto de ser jovem e de ter (julgava eu...) o Mundo para conquistar.
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