sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
«POTEMKINE» (uma canção de Georges Coulonges e Jean Ferrat)
Toda a gente ouviu falar da revolta da guarnição do «Potenkine» (em 1905), um couraçado da frota imperial russa do mar Negro. E da maneira bárbara como o corpo de oficiais desse navio tentou castigar os amotinados (fartos de comer carne podre) na sequência de um levantamento de rancho. O grande realizador de cinema Eisenstein até tirou argumento desse episódio da História do seu país para realizar a sua obra-prima.
No início dos anos 60, em França, um certo Georges Coulonges -poeta, romancista, dramaturgo, actor, radialista, guionista, figura da resistência armada contra o nazismo- viu o filme do realizador soviético e fez a letra para uma bonita canção sobre o tema. Letra que exaltava a solidariedade manifestada pelos marinheiros de um pelotão de execução, que, por ordem da oficialidade do tal couraçado, deveria fusilar os seus camaradas. Musicada e cantada por Jean Ferrat, essa canção obteve um sucesso público imediato. Só que, por razões de baixa política, durante um período eleitoral, «Potenkine» esteve proibida, durante um certo tempo, de ser cantada nos canais (então sem concorrência) da O.R.T.F.. Que, por essa época, tinham um director particularmente servil diante do poder instalado. Isto passou-se nos primeiros meses de 1965. Eu estava em França há relativamente pouco tempo e lembro-me que foi esta a minha primeira desilusão em relação à democracia francesa. Que, sem ser o Portugal de Salazar (muito longe disso) que eu conhecera e me oprimira , também tinha falhas e manifestava atitudes inadmissíveis. Aqui vos deixo a letra da canção em causa : «Potenkine». E a minha (tardia) homenagem ao cançonestista Jean Ferrat e ao letrista Georges Coulonges (falecido em 2003).
M’en voudrez-vous beaucoup si je vous dis un monde
Qui chante au fond de moi au bruit de l’océan
M’en voudrez-vous beaucoup si la révolte gronde
Dans ce nom que je dis au vent des quatre vents
Ma mémoire chante en sourdine
Potemkine
Ils étaient des marins durs à la discipline
Ils étaient des marins, ils étaient des guerriers
Et le coeur d’un marin au grand vent se burine
Ils étaient des marins sur un grand cuirassé
Sur les flots je t’imagine
Potemkine
M’en voudrez-vous beaucoup si je vous dis un monde
Où celui qui a faim va être fusillé
Le crime se prépare et la mer est profonde
Que face aux révoltés montent les fusiliers
C’est mon frère qu’on assassine
Potemkine
Mon frère, mon ami, mon fils, mon camarade
Tu ne tireras pas sur qui souffre et se plaint
Mon frère, mon ami, je te fais notre alcade
Marin ne tire pas sur un autre marin
Ils tournèrent leurs carabines
Potemkine
M’en voudrez-vous beaucoup si je vous dis un monde
Où l’on punit ainsi qui veut donner la mort
M’en voudrez-vous beaucoup si je vous dis un monde
Où l’on n’est pas toujours du côté du plus fort
Ce soir j’aime la marine
Potemkine
Georges Coulonges (na foto acima) dizia : «Quando uma canção obriga o indivíduo a fazer uma pequena ginástica cerebral, torna-se o instrumento graças ao qual ele se cultiva». Além de Jean Ferrat, muitos outros intérpretes de prestígio cantaram letras de Coulonges : Caterina Valente, Bourvil, Nat King Cole, Tino Rossi, Patachou, Nana Mouskouri, Mouloudji, Juliette Greco, etc.
Jean Ferrat : uma presença, uma voz, uma atitude digna. A sua carreira teria sido mais longa, se ele tivesse aceitado dobrar a cerviz diante dos poderes instituidos
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