sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

OS MEUS AMIGOS


Amigos cento e dez e talvez mais,
Eu já contei ! Vaidades que eu sentia !
Pensei que sobre a terra não havia
Mais ditoso mortal entre os mortais.

Amigos cento e dez, tão serviçais,
Tão zelosos das leis da cortesia,
Que eu já farto de os ver, me escapulia
Às suas curvaturas vertebrais.

Um dia adoeci profundamente,
Ceguei. Dos cento e dez houve um somente
Que não desfez os laços quase rotos.

Que vamos nós (diziam) lá fazer ?
Se ele está cego, não nos pode ver...
Que cento e nove impávidos marotos !

(Camilo Castelo Branco)

O pessimismo de Camilo ainda não me contagiou. Felizmente !
Alguém me disse, que foi porque eu ainda não ceguei... Mas eu, teimosamente, continuo a acreditar na amizade.

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