1) «A DESAPARECIDA»
«The Searchers» - Realizado por John Ford em 1956,
com John Wayne, Jeffrey Hunter e Natalie Wood.
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Sinopse : um ex-combatente da Guerra de Secessão e um jovem cowboy empreendem uma viagem (que vai durar 10 anos) pelo território imenso do Texas, para tentarem encontrar e resgatar uma parente raptada pelos índios Comanches.
2) «JOHNNY GUITAR»
«Johnny Guitar» - Realizado por Nicholas Ray em 1953,
com Joan Crawford, Sterling Hayden e Mercedes McCambridge.
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Sinopse : uma aventureira recorre aos préstimos de John Logan, um temível pistoleiro e seu antigo amante, para desafiar a tirania dos ganadeiros de uma recôndita região do Arizona, onde ela se quer instalar a todo o custo e fazer fortuna com a exploração de um ‘saloon’.
3) «SHANE»
«Shane» - Realizado por George Stevens em 1953,
com Allan Ladd, Van Heflin e Jean Arthur.
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Sinopse : Shane, um desconhecido, ajuda um modesto fazendeiro do Wyoming a defender as suas terras contra a ambição desmedida dos rancheiros locais, que desejam expulsá-lo. Um platónico romance de amor floresce entre o forasteiro e a esposa do seu amigo fazendeiro, perante o olhar inocente de uma criança.
4) «HOMEM SEM RUMO»
«Man Without a Star» - Realizado por King Vidor em 1955,
com Kirk Douglas, William Campbell e Jeanne Crain.
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Sinopse : Um cowboy interfere no conflito, pela posse de pastagens, entre rancheiros rivais. E, ao mesmo tempo, forma –profissional e moralmente- um jovem seu protegido, que quer singrar na rude profissão de vaqueiro. Contingências da vida, acabam por colocá-los em campos de luta opostos.
5) «O SARGENTO NEGRO»
«Sergeant Rutledge» -Realizado por John Ford em 1960,
com Jeffrey Hunter, Woody Strode e Constance Towers.
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Sinopse : Um sargento negro do exército dos Estados Unidos é acusado de estupro, de assassínio e de deserção. O tenente Cantrell, seu superior hierárquico directo, vai envidar esforços para demonstrar ao tribunal militar que o julga, que, contrariamente às aparências, o réu é um soldado sem mácula e um homem de grande coração; que renunciou à sua própria liberdade para salvar a vida dos seus companheiros de unidade.
6) «EMBOSCADA NA SOMBRA»
«Comanche Station» - Realizado por Budd Boetticher em 1960,
com Randolph Scott, Nancy Gates e Claude Akins.
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Sinopse : Um homem que procura a sua própria esposa, raptada pelos pele-vermelhas, resgata uma mulher, cujo marido oferece um avultado prémio a quem a traga de volta ao lar : morta ou viva. Intimamente indignado pela aparente cobardia e crueldade do marido da ex-prisioneira, o libertador acabará por compreender toda a complexidade da sua atitude.
7) «DANÇAS COM LOBOS»
«Dances With Wolves» - Realizado por Kevin Costner em 1991,
com Kevin Costner, Mary McDonnell e Graham Greene.
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Sinopse : Um oficial do exército ianque, destacado para um fortim da fronteira, toma a iniciativa de ir ao encontro de uma tribo ameríndia e de estabelecer relações cordiais com o inimigo designado pelas autoridades militares. Colocado perante o dilema de optar entre a gente da sua raça e os seus novos amigos, o oficial acaba por escolher viver com aqueles que, intimamente, ele sabe estarem condenados a desaparecer. Apesar da razão que lhes assiste na sua luta desesperada pela sobrevivência.
8) «RIO BRAVO»
«Rio Bravo» - Realizado por Howard Hawks em 1959,
com John Wayne, Dean Martin e Angie Dickinson.
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Sinopse : O obstinado xerife de Rio Bravo, cidadezinha do Oeste, recusa ceder às pressões de um potentado local e libertar o seu irmão, um assassino notório. Apoiado por três adjuntos -um alcoólico, um velho extropiado e um jovem sem experiência- o agente da autoridade vai resistir, apesar de tudo, aos seus adversários e acabar por vencê-los.
9) «OS PISTOLEIROS DA NOITE»
«Ride the High Country» - Realizado por Sam Peckinpah em 1961,
com Joel McCrea, Randolph Scott e James Drury.
/////////
Sinopse : Dois veteranos do Oeste selvagem aceitam o trabalho oferecido por uma instituição bancária, que consiste em assegurar a protecção do ouro que transita entre as minas locais e a cidade. Mas um deles decide, à revelia das promessas feitas ao seu companheiro, apropriar-se do precioso metal e gozar os dias que lhe restam com o produto do roubo.
10) «DUELO AO SOL»
«Duel in the Sun» -Realizado por King Vidor em 1947,
com Jennifer Jones, Gregory Peck e Joseph Cotten.
/////////
Sinopse : Pearl Chavez é recolhida (depois da morte de seus pais) por uns parentes ricos. Cortejada pelos seus primos Lewt e Jesse, ela prefere o amor selvagem e inconstante do primeiro às promessas de vida estável e confortável que o segundo lhe quer oferecer. O idílio com Lewt -que vive em margem da lei- termina de maneira brusca e trágica.
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
3 GRANDES VELEIROS : «EAGLE», «CREOULA» E «ESMERALDA»
Eis aqui as fotos de três conhecidos veleiros tiradas pelo bloguista (em 1994) da margem esquerda do Sena, nas proximidades de Ruão. Estes navios, que aqui vão a caminho do oceano, foram alguns dos muitos que, nesse ano, participaram na ‘Armada’, evento muito esperado pelos entusiastas europeus da navegação à vela. E não só. Basta dizer que durante o período de 8/10 dias que dura a estadia e exibição dos maiores e mais belos veleiros do mundo no porto da capital normanda, afluem ali 10 milhões de visitantes ! O acontecimento repete-se (em princípio) de 4 em 4 anos e é, simplesmente, fenomenal. Não só pela presença de tão prestigiosos navios, mas também pela animação que reina em Ruão nessas ocasiões e pela organização de centenas de eventos de carácter cultural e outros : concertos, exposições, mostras de artesanato, de gastronomia, etc.
Se algum leitor encarar a hipótese de ir a Ruão aquando da organização da próxima ‘Armada’, para assistir a um dos maiores espectáculos náuticos jamais visto, aconselho-o a reservar quarto num dos muitos hotéis da cidade (que são dezenas, de todas as categorias) com, pelo menos, um ano de antecedência. Ou então, a travar conhecimento com um dos 15 000 portugueses que por ali residem e que possa e aceite recebê-lo em sua casa.
O 1º veleiro mostrado é o «EAGLE», navio-escola da Guarda Costeira norte-americana. É idêntico à barca «Sagres». Distingue-se desta e de outros navios similares, pelas barras oblíquas pintadas na proa, sobre as quais figura o brasão do ramo das forças armadas dos Estados Unidos que o utiliza. E, também, pela figura de proa, que faz jus ao nome do veleiro : uma decorativa águia dourada.
O 2º é o lugre «CREOULA», antigo bacalhoeiro que o armador Bensaúde utilizou na pesca longínqua e que teve -durante décadas- o seu fundeadouro de inverno no rio Coina, junto à seca da Azinheira Velha, na Telha (Santo André, Barreiro). Restaurado, este navio está hoje, felizmente e como todos sabem, sob a responsabilidade da Armada, que assegura a sua manutenção e o utiliza como navio de treinos no mar.
O 3º é o «ESMERALDA», navio-escola chileno irmão gémeo do «Juan Sebastián de Elcano», da armada espanhola. Este belíssimo veleiro ganhou uma péssima reputação, por ter sido –durante o ignóbil consulado do general Pinochet- transformado em prisão flutuante e local de torturas. A marinha do Chile, que havia negado tal facto, acabou (recentemente) por admiti-lo. O navio, que chegou a ser alvo de manifestações de desagrado nos portos estrangeiros que escalava, não tem, obviamente, culpa das bestices cometidas a bordo. Mas que mancharam a sua reputação por muitos anos...
Se algum leitor encarar a hipótese de ir a Ruão aquando da organização da próxima ‘Armada’, para assistir a um dos maiores espectáculos náuticos jamais visto, aconselho-o a reservar quarto num dos muitos hotéis da cidade (que são dezenas, de todas as categorias) com, pelo menos, um ano de antecedência. Ou então, a travar conhecimento com um dos 15 000 portugueses que por ali residem e que possa e aceite recebê-lo em sua casa.
O 1º veleiro mostrado é o «EAGLE», navio-escola da Guarda Costeira norte-americana. É idêntico à barca «Sagres». Distingue-se desta e de outros navios similares, pelas barras oblíquas pintadas na proa, sobre as quais figura o brasão do ramo das forças armadas dos Estados Unidos que o utiliza. E, também, pela figura de proa, que faz jus ao nome do veleiro : uma decorativa águia dourada.
O 2º é o lugre «CREOULA», antigo bacalhoeiro que o armador Bensaúde utilizou na pesca longínqua e que teve -durante décadas- o seu fundeadouro de inverno no rio Coina, junto à seca da Azinheira Velha, na Telha (Santo André, Barreiro). Restaurado, este navio está hoje, felizmente e como todos sabem, sob a responsabilidade da Armada, que assegura a sua manutenção e o utiliza como navio de treinos no mar.
O 3º é o «ESMERALDA», navio-escola chileno irmão gémeo do «Juan Sebastián de Elcano», da armada espanhola. Este belíssimo veleiro ganhou uma péssima reputação, por ter sido –durante o ignóbil consulado do general Pinochet- transformado em prisão flutuante e local de torturas. A marinha do Chile, que havia negado tal facto, acabou (recentemente) por admiti-lo. O navio, que chegou a ser alvo de manifestações de desagrado nos portos estrangeiros que escalava, não tem, obviamente, culpa das bestices cometidas a bordo. Mas que mancharam a sua reputação por muitos anos...
O DESAIRE DE BADAJOZ : FERIDO NUMA PERNA, D. AFONSO HENRIQUES É APRISIONADO POR FERNANDO II, REI DE LEÃO
(Páginas esquecidas da nossa História - 1)
Sabe-se hoje, com rigor, que o célebre bandoleiro medieval Geraldo Geraldes, alcunhado o «Sem Pavor», foi um agente provocador do nosso primeiro rei. Com efeito, o ardiloso conquistador da cidade de Évora mantinha realações secretas com D. Afonso Henriques, que o encorajava (pagando-lhe) a mover acções militares irregulares em certas regiões da Península ocupadas pelos muçulmanos e sobre as quais os reis vizinhos de Leão e Castela dispunham –graças a tratados firmados- do direito exclusivo de conquista.
Nessas circunstâncias, não é de admirar que, o famoso cavaleiro-vilão tenha beneficiado em Portugal da maior das impunidades. Pudera ! Geraldes guardava para si e para os seus homens o produto das pilhagens, mas oferecia ao rei de Portugal as praças e castelos dos quais se ia apoderando. E D. Afonso Henriques fingia, publicamente, admoestá-lo e perdoar-lhe as tropelias, sem, contudo, devolver aos lesados as terras e bens assim conquistados.
Protegido dessa curiosa maneira, o «Sem Pavor» chegou a internar-se em território sarraceno, muito para além da actual raia alentejana e a levar a guerra a Trujillo ou a Badajoz, praças particularmente apetecidas por Afonso I. Depois de ter tomado a primeira dessas cidades em 1165, Geraldo Geraldes montou um apertado cerco a Badajoz, acabando por investi-la com sucesso no ano de 1169. O ladino e arrojado Geraldo foi apoiado nessa empresa contra os mouros de Badajoz pelas tropas reais e pelo próprio soberano português, que, encontrando-se, ao tempo, em guerra aberta com o seu genro Fernando II de Leão, nem sequer tentou disfarçar, dessa vez, o irrespeito que lhe merecia a letra dos tratados.
Pouco depois da sua entrada em Badajoz e da brilhante vitória alcançada contra a respectiva guarnição muçulmana, os portugueses foram surpreendidos pela brusca e inoportuna chegada das hostes leonesas diante das muralhas dessa cidade ribeirinha do Guadiana. Hostes que, a marchas forçadas, para ali haviam convergido logo que Fernando II tomou conhecimento das acções bélicas do seu irrequieto sogro em terras cuja posse, ele muito legitimamente reivindicava.
Tendo, assim, passado da incómoda situação de triunfadores à de sitiados e perante a desproporção de forças, que lhes era francamente desfavorável, D. Afonso Henriques, Geraldo Geraldes e os seus cavaleiros resolveram renunciar (temporariamente, pensavam eles) à posse da praça e, ao mesmo tempo, sair airosamente da aventura. Nesse transe, os portugueses evacuaram a cidadela de Badajoz, onde se encontravam cercados, e irromperam num tropel desenfreado pelo meio dos leoneses, procurando a salvação na fuga. Foi, pois durante essa retirada precipitada que o nosso primeiro rei embateu violentamente com uma perna no ferrolho de uma das portas da fortificação e, já em campo aberto, foi estatelar-se numa seara de centeio. Ali, com uma perna partida, o rei de Portugal foi socorrido, não pelos seus homens, que na confusão da fuga nem sequer se aperceberam do infausto acontecimento, mas pelos soldados inimigos, que o aprisionaram.
Parece que ao ver-se capturado, D. Afonso Henriques, o temível ‘Ibn Errik’ –pavor de toda a moirama- chorou como uma criança ! De raiva e de impotência, sem dúvida. E que suplicou insistentemente a seu genro a graça de o libertar e de o mandar de volta às suas terras, mediante a entrega imediata de todas as praças e castelos que ele, rei de Portugal, havia conquistado à revelia da assinatura dos tratados estabelecidos solenemente entre ambos.
Rezam as crónicas que Fernando II se deixou impressionar pelas súplicas do seu encanecido sogro (que já contava, nessa altura, a respeitável idade de 68 anos) e que, magnânimo, se contentou com a devolução de vinte e cinco cidades, vilas e fortalezas anteriormente tomadas pelos portugueses aos agarenos e a cuja posse o rei de Leão se julgava legitimamente com direito, como já se fez menção. D. Afonso (que esteve detido cerca de dois meses) teve de entregar, igualmente, ao seu rival e parente a cidade galega de Tui e territórios adjacentes e remeter-lhe, do mesmo modo, vinte preciosos cavalos de batalha e quinze azémolas carregadas com 3 000 kg de ouro ! Apesar das aparências, o resgate pago pelo fundador da nacionalidade ao monarca leonês foi bastante leve, se comparado com aquilo que, ao tempo, se exigia em semelhantes circunstâncias.
Abro aqui um parêntese para dizer aos leitores impressionados pela grande quantidade de ouro vertido por D. Afonso I ao seu genro e captor, que o rei de Portugal era um homem rico; e que, tal como os outros monarcas da sua
época, ele alimentava o tesouro real com o produto dos saques das cidades e vilas que conquistava, com o ouro (moeda universal do tempo) proveniente dos resgates dos cativos abastados, com os impostos e taxas lançados sobre os concelhos e com o dinheiro ganho em rendas, portagens, tributos, venda de privilégios, etc. Além disso, o rei de Portugal tirava chorudos proventos das úberas e vastas terras de lavoura que possuia e que produziam excedentes de bens essenciais, nomeadamente cereais.
Prossigo, dizendo que, depois do vexante desastre de Badajoz, o fundador da dinastia de Borgonha nunca mais foi o mesmo homem. Ao que tudo indica, o osso fracturado (provavelmente um fémur) nunca se soldou convenientemente, o que obrigou o rei a coxear e a sofrer desse aleijão para o resto da sua vida. D. Afonso Henriques -excepcional homem de acção- também nunca mais pôde montar a cavalo e essa sua inaptitude frustrou-o, ensombrando-lhe a existência. Testemunhas coevas referiram que, na sequência do acidente sofrido em Badajoz, el-rei passou horas a fio acabrunhado, sentado num cadeirão. E que quando necessitava absolutamente de se deslocar, o fazia nos braços de um criado ou era transportado numa improvisada liteira. Situação insuportável, com certeza, para quem, pouco tempo antes, de montante em punho, ainda passeava a sua aura de invencibilidade pelos campos de batalha do ocidente ibérico.
Apesar do dislate de Badajoz e das suas funestas consequências para o reino de Portugal e para a saúde e prestígio de D. Afonso Henriques, o soberano ainda sobreviveu (contrariamente àquilo que prognosticaram alguns dos seus contemporâneos) uma quinzena de anos. A sua quase lendária força anímica acabou por se sobrepor, pouco a pouco, aos problemas de ordem física e psicológica gerados pela sua forçada inacção. O fundador da nacionalidade viria a falecer em Coimbra, a 6 de Dezembro de 1185, indo a enterrar –por sua expressa vontade- no mosteiro de Santa Cruz daquela cidade. Antes, porém, de deixar este vale de lágrimas, o «Conquistador» ainda teve a ocasião de experimentar dois momentos de intensa alegria : o primeiro, foi quando ele pôde comprovar que o seu filho primogénito e herdeiro natural da coroa –o príncipe D. Sancho- lhe seguia as pisadas, ao revelar-se um destemido guerreiro e um político avisado, preocupado com a dilatação do território nacional e com a administração do reino; o segundo momento de grande felicidade, surgiu-lhe quase no fim da vida, quando viu, enfim, reconhecida por Roma a sua dignidade real. Com efeito, pela bula ‘Manifestis Probatum’, datada de 23 de Maio de 1179, o papa Alexandre III outorgou-lhe oficialmente o título de rei de Portugal. Título ao qual D. Afonso Henriques já fazia jus, desde aquele memorável ano de 1143, em que o imperador Afonso VII de Leão e Castela se viu constrangido a renunciar à sua suserania sobre o condado portucalense. (M.M.S.)
Sabe-se hoje, com rigor, que o célebre bandoleiro medieval Geraldo Geraldes, alcunhado o «Sem Pavor», foi um agente provocador do nosso primeiro rei. Com efeito, o ardiloso conquistador da cidade de Évora mantinha realações secretas com D. Afonso Henriques, que o encorajava (pagando-lhe) a mover acções militares irregulares em certas regiões da Península ocupadas pelos muçulmanos e sobre as quais os reis vizinhos de Leão e Castela dispunham –graças a tratados firmados- do direito exclusivo de conquista.
Nessas circunstâncias, não é de admirar que, o famoso cavaleiro-vilão tenha beneficiado em Portugal da maior das impunidades. Pudera ! Geraldes guardava para si e para os seus homens o produto das pilhagens, mas oferecia ao rei de Portugal as praças e castelos dos quais se ia apoderando. E D. Afonso Henriques fingia, publicamente, admoestá-lo e perdoar-lhe as tropelias, sem, contudo, devolver aos lesados as terras e bens assim conquistados.
Protegido dessa curiosa maneira, o «Sem Pavor» chegou a internar-se em território sarraceno, muito para além da actual raia alentejana e a levar a guerra a Trujillo ou a Badajoz, praças particularmente apetecidas por Afonso I. Depois de ter tomado a primeira dessas cidades em 1165, Geraldo Geraldes montou um apertado cerco a Badajoz, acabando por investi-la com sucesso no ano de 1169. O ladino e arrojado Geraldo foi apoiado nessa empresa contra os mouros de Badajoz pelas tropas reais e pelo próprio soberano português, que, encontrando-se, ao tempo, em guerra aberta com o seu genro Fernando II de Leão, nem sequer tentou disfarçar, dessa vez, o irrespeito que lhe merecia a letra dos tratados.
Pouco depois da sua entrada em Badajoz e da brilhante vitória alcançada contra a respectiva guarnição muçulmana, os portugueses foram surpreendidos pela brusca e inoportuna chegada das hostes leonesas diante das muralhas dessa cidade ribeirinha do Guadiana. Hostes que, a marchas forçadas, para ali haviam convergido logo que Fernando II tomou conhecimento das acções bélicas do seu irrequieto sogro em terras cuja posse, ele muito legitimamente reivindicava.
Tendo, assim, passado da incómoda situação de triunfadores à de sitiados e perante a desproporção de forças, que lhes era francamente desfavorável, D. Afonso Henriques, Geraldo Geraldes e os seus cavaleiros resolveram renunciar (temporariamente, pensavam eles) à posse da praça e, ao mesmo tempo, sair airosamente da aventura. Nesse transe, os portugueses evacuaram a cidadela de Badajoz, onde se encontravam cercados, e irromperam num tropel desenfreado pelo meio dos leoneses, procurando a salvação na fuga. Foi, pois durante essa retirada precipitada que o nosso primeiro rei embateu violentamente com uma perna no ferrolho de uma das portas da fortificação e, já em campo aberto, foi estatelar-se numa seara de centeio. Ali, com uma perna partida, o rei de Portugal foi socorrido, não pelos seus homens, que na confusão da fuga nem sequer se aperceberam do infausto acontecimento, mas pelos soldados inimigos, que o aprisionaram.
Parece que ao ver-se capturado, D. Afonso Henriques, o temível ‘Ibn Errik’ –pavor de toda a moirama- chorou como uma criança ! De raiva e de impotência, sem dúvida. E que suplicou insistentemente a seu genro a graça de o libertar e de o mandar de volta às suas terras, mediante a entrega imediata de todas as praças e castelos que ele, rei de Portugal, havia conquistado à revelia da assinatura dos tratados estabelecidos solenemente entre ambos.
Rezam as crónicas que Fernando II se deixou impressionar pelas súplicas do seu encanecido sogro (que já contava, nessa altura, a respeitável idade de 68 anos) e que, magnânimo, se contentou com a devolução de vinte e cinco cidades, vilas e fortalezas anteriormente tomadas pelos portugueses aos agarenos e a cuja posse o rei de Leão se julgava legitimamente com direito, como já se fez menção. D. Afonso (que esteve detido cerca de dois meses) teve de entregar, igualmente, ao seu rival e parente a cidade galega de Tui e territórios adjacentes e remeter-lhe, do mesmo modo, vinte preciosos cavalos de batalha e quinze azémolas carregadas com 3 000 kg de ouro ! Apesar das aparências, o resgate pago pelo fundador da nacionalidade ao monarca leonês foi bastante leve, se comparado com aquilo que, ao tempo, se exigia em semelhantes circunstâncias.
Abro aqui um parêntese para dizer aos leitores impressionados pela grande quantidade de ouro vertido por D. Afonso I ao seu genro e captor, que o rei de Portugal era um homem rico; e que, tal como os outros monarcas da sua
época, ele alimentava o tesouro real com o produto dos saques das cidades e vilas que conquistava, com o ouro (moeda universal do tempo) proveniente dos resgates dos cativos abastados, com os impostos e taxas lançados sobre os concelhos e com o dinheiro ganho em rendas, portagens, tributos, venda de privilégios, etc. Além disso, o rei de Portugal tirava chorudos proventos das úberas e vastas terras de lavoura que possuia e que produziam excedentes de bens essenciais, nomeadamente cereais.
Prossigo, dizendo que, depois do vexante desastre de Badajoz, o fundador da dinastia de Borgonha nunca mais foi o mesmo homem. Ao que tudo indica, o osso fracturado (provavelmente um fémur) nunca se soldou convenientemente, o que obrigou o rei a coxear e a sofrer desse aleijão para o resto da sua vida. D. Afonso Henriques -excepcional homem de acção- também nunca mais pôde montar a cavalo e essa sua inaptitude frustrou-o, ensombrando-lhe a existência. Testemunhas coevas referiram que, na sequência do acidente sofrido em Badajoz, el-rei passou horas a fio acabrunhado, sentado num cadeirão. E que quando necessitava absolutamente de se deslocar, o fazia nos braços de um criado ou era transportado numa improvisada liteira. Situação insuportável, com certeza, para quem, pouco tempo antes, de montante em punho, ainda passeava a sua aura de invencibilidade pelos campos de batalha do ocidente ibérico.
Apesar do dislate de Badajoz e das suas funestas consequências para o reino de Portugal e para a saúde e prestígio de D. Afonso Henriques, o soberano ainda sobreviveu (contrariamente àquilo que prognosticaram alguns dos seus contemporâneos) uma quinzena de anos. A sua quase lendária força anímica acabou por se sobrepor, pouco a pouco, aos problemas de ordem física e psicológica gerados pela sua forçada inacção. O fundador da nacionalidade viria a falecer em Coimbra, a 6 de Dezembro de 1185, indo a enterrar –por sua expressa vontade- no mosteiro de Santa Cruz daquela cidade. Antes, porém, de deixar este vale de lágrimas, o «Conquistador» ainda teve a ocasião de experimentar dois momentos de intensa alegria : o primeiro, foi quando ele pôde comprovar que o seu filho primogénito e herdeiro natural da coroa –o príncipe D. Sancho- lhe seguia as pisadas, ao revelar-se um destemido guerreiro e um político avisado, preocupado com a dilatação do território nacional e com a administração do reino; o segundo momento de grande felicidade, surgiu-lhe quase no fim da vida, quando viu, enfim, reconhecida por Roma a sua dignidade real. Com efeito, pela bula ‘Manifestis Probatum’, datada de 23 de Maio de 1179, o papa Alexandre III outorgou-lhe oficialmente o título de rei de Portugal. Título ao qual D. Afonso Henriques já fazia jus, desde aquele memorável ano de 1143, em que o imperador Afonso VII de Leão e Castela se viu constrangido a renunciar à sua suserania sobre o condado portucalense. (M.M.S.)
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
HERÁLDICA MUNICIPAL (3)
Prossigo com a apresentação de brasões de armas municipais que, para aqui caberem, terão de ser interessantes (a diferentes títulos), belos ou simplesmente curiosos. O de hoje -referente à cidade amazónica de Manaus- enquadra-se nesta última categoria. Diga-se, antes de mais, que a emblemática municipal brasileira é, salvo honrosas excepções, das mais fantasiosas, não respeitando as regras estabelecidas por essa ciência auxiliar da História que é a heráldica. Isto, pelo facto de não existir (que se saiba) naquele imenso país da América do sul um organismo de estudo e de oficialização dos brasões, como os que existem em Portugal (estou-me a referir ao Gabinete de Heráldica da Associação dos Arqueólogos) e no resto da Europa.
Repare-se agora atentamente no símbolo municipal de Manaus : faz clara referência ao gigantesco rio Amazonas e às imensas florestas da região; alude à situação geográfica do município, implantado na confluência do já citado Amazonas e do rio Negro, seu tributário; e assinala a presença dos colonizadores portugueses naquela terra do fim do mundo. Este último aspecto está materializado num branco de sobrecasaca, que parece conversar com uma mulher indígena. Mas também na fortaleza, sobre cujas ameias flutua a bandeira... verde-rubra da nossa república. Bandeira que, como toda a gente sabe, salvo o desenhista (perdoai o brasileirismo) que criou o brasão de Manaus, só surgiu no início da segunda década do século XX, depois da queda da dinastia de Bragança.
A cidade chamou-se primeiramente Barra do Rio Negro e pertenceu administrativamente ao Pará, antes da fundação do estado do Amazonas. A sua época de ouro coincidiu com a exploração intensiva das florestas de héveas e da exportação do latex. Hoje, a sua economia assenta, principalmente, na existência de uma activa zona franca, que atraíu investimento (industrial e comercial) para aquela longinqua região do Brasil. A população de Manaus, que foi, outrora, uma modesta cidade do interior, ronda agora o milhão de habitantes.
Repare-se agora atentamente no símbolo municipal de Manaus : faz clara referência ao gigantesco rio Amazonas e às imensas florestas da região; alude à situação geográfica do município, implantado na confluência do já citado Amazonas e do rio Negro, seu tributário; e assinala a presença dos colonizadores portugueses naquela terra do fim do mundo. Este último aspecto está materializado num branco de sobrecasaca, que parece conversar com uma mulher indígena. Mas também na fortaleza, sobre cujas ameias flutua a bandeira... verde-rubra da nossa república. Bandeira que, como toda a gente sabe, salvo o desenhista (perdoai o brasileirismo) que criou o brasão de Manaus, só surgiu no início da segunda década do século XX, depois da queda da dinastia de Bragança.
A cidade chamou-se primeiramente Barra do Rio Negro e pertenceu administrativamente ao Pará, antes da fundação do estado do Amazonas. A sua época de ouro coincidiu com a exploração intensiva das florestas de héveas e da exportação do latex. Hoje, a sua economia assenta, principalmente, na existência de uma activa zona franca, que atraíu investimento (industrial e comercial) para aquela longinqua região do Brasil. A população de Manaus, que foi, outrora, uma modesta cidade do interior, ronda agora o milhão de habitantes.
CAIPIRINHA : BEBIDA TÍPICA DO BRASIL OU COQUETEL LUSO-BRASILEIRO ?
Para um brasileiro, esta pergunta pode parecer uma heresia ou uma provocação. Mas não é, já que é fácil demonstrar -em meia dúzia de linhas- que o mais popular ‘cocktail’ do mundo (e, quiçá, o melhor) tem mãozinha portuguesa na sua génese.
1º -A sua sua invenção é, geralmente, atribuída a um comerciante português de São Paulo, proprietário ou empregado de um bar, que, durante o surto de gripe de 1918, a serviu à sua clientela como remédio (ao que parece eficaz) contra o virus da influenza.
2º -A bebida é confeccionada, na sua forma básica, com cachaça, limas, açúcar e gelo. Ora, a cana -da qual se extrai o açúcar e a substância que, depois de destilada (garapa ou melaço), produz a cachaça- foi introduzida no Brasil, em proveniência da ilha da Madeira, pelo português Martim Afonso de Sousa por volta de 1530. Essa planta (que tem, hoje, o Brasil como 1º produtor mundial) até chegou a ser a base da economia do país, na época dos engenhos. A lima, assim como os outros citrinos, foram trazidos da China pelos portugueses, também no século XVI, e espalhados pelo mundo –nomeadamente pela Amércia do sul- graças às viagens transoceânicas dos nossos mareantes. Não é, pois por acaso, se na Grécia, no Irão ou nos países árabes se dá o nome de ‘portugal’ às laranjas. Quanto ao gelo, tenho que reconhecer que não foram os portugueses que o inventaram; mas foram eles, certamente, quem primeiro o produziu no Brasil.
Se, depois disto, alguém persiste em dizer que, nós portugueses, nada temos a ver com a criação da caipirinha, então terei que clamar : aqui d’el rei, que nos querem esbulhar !!!
(Vem todo este palavreado a propósito do Decreto (da Lei Brasileira) nº 4.851, de 2003, que no seu parágrafo 4 diz o seguinte : «Caipirinha é a bebida típica brasileira, com graduação alcoólica de quinze a trinta e seis por cento em volume, a vinte graus Celsius, obtida exclusivamente com cachaça, acrescida de limão e açúcar»).
1º -A sua sua invenção é, geralmente, atribuída a um comerciante português de São Paulo, proprietário ou empregado de um bar, que, durante o surto de gripe de 1918, a serviu à sua clientela como remédio (ao que parece eficaz) contra o virus da influenza.
2º -A bebida é confeccionada, na sua forma básica, com cachaça, limas, açúcar e gelo. Ora, a cana -da qual se extrai o açúcar e a substância que, depois de destilada (garapa ou melaço), produz a cachaça- foi introduzida no Brasil, em proveniência da ilha da Madeira, pelo português Martim Afonso de Sousa por volta de 1530. Essa planta (que tem, hoje, o Brasil como 1º produtor mundial) até chegou a ser a base da economia do país, na época dos engenhos. A lima, assim como os outros citrinos, foram trazidos da China pelos portugueses, também no século XVI, e espalhados pelo mundo –nomeadamente pela Amércia do sul- graças às viagens transoceânicas dos nossos mareantes. Não é, pois por acaso, se na Grécia, no Irão ou nos países árabes se dá o nome de ‘portugal’ às laranjas. Quanto ao gelo, tenho que reconhecer que não foram os portugueses que o inventaram; mas foram eles, certamente, quem primeiro o produziu no Brasil.
Se, depois disto, alguém persiste em dizer que, nós portugueses, nada temos a ver com a criação da caipirinha, então terei que clamar : aqui d’el rei, que nos querem esbulhar !!!
(Vem todo este palavreado a propósito do Decreto (da Lei Brasileira) nº 4.851, de 2003, que no seu parágrafo 4 diz o seguinte : «Caipirinha é a bebida típica brasileira, com graduação alcoólica de quinze a trinta e seis por cento em volume, a vinte graus Celsius, obtida exclusivamente com cachaça, acrescida de limão e açúcar»).
domingo, 27 de setembro de 2009
Coisa curiosa : enquanto na proclamada pátria dos Direitos do Homem ninguém se escandaliza com o facto de se prestar pública homenagem aos militantes comunistas, que ajudaram a França -muitas vezes com o sacrifício das próprias vidas- a libertar-se do jugo nazi, em países como o nosso assiste-se ao degradante espectáculo dado por um antigo membro da União Nacional (o partido único de Salazar), hoje presidente da Região Autónoma da Madeira, perorando contra o mais antigo dos partidos portugueses e a reclamar a extinção da única organização política nacional que pode apresentar uma longa lista de mártires da luta contra o fascismo caseiro. Eu, que não pertenço (nem quero pertencer) a nenhum partido, confesso que fico chocado com as facilidades dadas, repetidamente, pelos meios de informação (nomeadamente pela TV) a palermas desbocados como o supracitado. Acho que esse indivíduo, que até tem obra feita no arquipélago de Zarco (reconheço-o, sem o mínimo problema), devia ser mais comedido naquilo que diz e responsabilizado, perante todos os portugueses, pelas asneiras e ofensas que debita, a jorros, quotidianamente.
Para ilustrar aquilo que afirmo no início deste texto, aqui deixo as fotografias de um selo postal e de um navio, que prestam uma inequívoca homenagem à militante comunista Danièle Casanova, natural da cidade de Ajaccio. Intelectual, membro activo da resistência ao ocupante hitleriano desde 1940, Danièle foi presa, em 1942, por colaboracionistas da polícia francesa, que a entregaram à sinistra Gestapo. Esteve detida na prisão de Fresnes, antes de ser enviada para o campo de concentração de Auschwitz, onde consagrou o resto da sua vida a mitigar o sofrimento das suas companheiras de cativeiro. Morreu no dia 10 de Maio de 1943 com o tifo, quando contava 34 anos de idade.
Para ilustrar aquilo que afirmo no início deste texto, aqui deixo as fotografias de um selo postal e de um navio, que prestam uma inequívoca homenagem à militante comunista Danièle Casanova, natural da cidade de Ajaccio. Intelectual, membro activo da resistência ao ocupante hitleriano desde 1940, Danièle foi presa, em 1942, por colaboracionistas da polícia francesa, que a entregaram à sinistra Gestapo. Esteve detida na prisão de Fresnes, antes de ser enviada para o campo de concentração de Auschwitz, onde consagrou o resto da sua vida a mitigar o sofrimento das suas companheiras de cativeiro. Morreu no dia 10 de Maio de 1943 com o tifo, quando contava 34 anos de idade.
Provavelmente toda a gente reconheceu os retratados desta foto-enigma, que são, naturalmente, Grace Kelly (futura princesa do Mónaco) e Gary Cooper. Mas a pergunta é : em que filme de Fred Zinneman, realizado em 1952, contracenaram estes saudosos actores ? -Cá vão mais umas dicas sobre a película em questão : foi distribuída pela companhia United Artists, rodada a preto e branco, apresenta no elenco outros prestigiados comediantes, tais como Katty Jurado e Thomas Mitchell, e o seu tema musical tem a assinatura do famoso compositor russo-americano Dimitri Tiomkin. Este filme valeu um Óscar (o segundo da sua carreira) a Cooper e a história contada pelo filme resume-se a isto : o xerife demissionário de Hadleyville, pequena cidade do Oeste, é desafiado por quadrilheiros, que lhe reprovam ter metido o seu chefe na cadeia. Perante a cobardia evidenciada pelos seus concidadãos e as súplicas de sua esposa, que não compreende a necessidade de afrontar os bandidos e aconselha o seu marido a fugir, Kane (o xerife) decide aceitar o repto e lutar sózinho contra meia dúzia de profissionais do revólver. E isto, por questões que têm a ver com a sua honra e com as suas obrigações profissionais... –Então, já se recorda do título desta fita, que figura na galeria de honra do cinema western ? –Tem toda a razão caro leitor. Trata-se, com efeito, de «O COMBOIO APITOU TRÊS VEZES», cujo título original é «High Noon».
(ilustrações : cartazes original, francês e sueco)
(ilustrações : cartazes original, francês e sueco)
sábado, 26 de setembro de 2009
O bloguista em Zabriskie Point, no Vale da Morte, Califórnia; região onde se registaram (ao que parece) as mais altas temperaturas do planeta. Trata-se de um deserto simultaneamente arrepiante e belo, onde o cineasta Michelangelo Antonioni rodou (em 1970) um dos seus filmes mais conhecidos. Mas não o melhor, na minha modesta opinião. Esta foto data de Maio de 1999 e, por causa da fita em questão, Zabriskie Point já se havia tornado numa etapa obrigatória para quem viaja por essas inóspitas paragens dos Estados Unidos. Ah, um detalhe : Christian B. Zabriskie (que deu o nome ao local) era um dos mandões de uma companhia mineira que extraiu borax do Vale da Morte, antes desta região ter sido transformada em Parque Nacional, quer dizer num espaço geográfico protegido e inviolável. Pois, porque aquilo não é a serra da Arrábida, que, apesar do seu estatuto de Parque Natural, continua -com a cumplicidade das autoridades portuguesas- a ser devassada pelos vendilhões de areia e por outros inescrupulosos fazedores de dinheiro. Enfim, o escândalo do costume...
Foto da magnífica ponte de Alcântara (passe o pleonasma, já que 'al kantara' significa ponte, em língua árabe) tirada pelo bloguista há meia dúzia de anos. O arco, construído sobre o tabuleiro deste monumento viário -que atravassa o Tejo na província espanhola de Cáceres- é consagrado a Trajano, o imperador nascido na Ibéria que a mandou erigir no ano 106 da nossa era. Esta obra de arte situa-se a escassa distância da fronteira portuguesa e merece, na minha opinião, uma visita atenta. Por se tratar, verdadeiramente, de uma ponte espectacular (194 m de comprimento, por 8 m de largura, por 71 m de altura), mas também por estar ligada ao nosso passado lusitano, quer dizer à nossa própria História. A ponte de Alcântara unia, nesses tempos remotos, Conímbriga (Condeixa-a-Nova) a Norba (Cáceres) e foi realizada graças a um imposto especial lançado sobre as populações de 7 vilas lusitanas. Enfim, ontem, como hoje, é sempre o Zé que sofre...
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
TURISMO HÁ 40 ANOS
Este postal ilustrado da década de 60, do século passado, mostra a entrada do navio «Villandry» no ante-porto de Dieppe, bonita cidade da Alta Normandia. Este ‘car-ferry’ assegurava a carreira regular entre este porto francês e Newhaven, no sul de Inglaterra. Nessa época, por parcas dezenas de Francos, realizava-se um agradável cruzeiro transmancha de 4 horas e beneficiava-se, a bordo desta unidade e dos outros navios da frota da S.N.C.F., de refeições e bebidas extremamente baratas, porque isentas de taxas alfandegárias. Convém lembrar que a Europa comunitária contava, então e apenas, seis países e que a Grã-Bretanha ainda estava de fora do chamado mercado comum. De Newhaven, as pessoas vindas de França podiam tomar o comboio para Londres ou tomar um autocarro que as conduzia a Brighton e a outras cidades do sul do Reino Unido. Note-se, ainda a propósito do bilhete postal publicado, que a paisagem de Dieppe (a praia mais próxima de Paris) se alterou consideravelmente. Os navios que continuam a assegurar a ligação com Newhavem já não entram no espaço navegável que aqui se vê; mas chegam e partem de uma zona que se situa à direita da foto. A estação marítima e as vias ferroviárias foram desmanteladas e o espaço para onde se dirige o navio é, hoje, uma marina muito frequentada por iates nacionais e estrangeiros. Refira-se, para quem ainda não conhece este magnífica região do noroeste de França, que o porto de Dieppe não se limita àquilo que se aqui vê. Aliás pode-se adivinhar, à esquerda da foto, o canal de acesso ao porto mercante e de pesca. Quanto ao velho «Villandry», há muitos anos que foi desmantelado e substituído por navios mais modernos e mais rápidos.
«MATRIMÓNIO À ITALIANA»
FICHA TÉCNICA
Título original : «Matrimonio all’Italiana»
Origem : Itália
Género : Comédia
Realização : Vittorio de Sica
Ano de estreia : 1964
Guião : Leo Benvenutti, Renato Castellani, Tonino Guerra...
Fotografia (c) : Roberto Gerardi
Música : Armando Trovaioli
Montagem : Adriana Novelli
Produção : Carlo Ponti
Distribuição : C.C. Champion/Les Films Concordia
Duração : 104 minutos
FICHA ARTÍSTICA
Sofia Loren ......................Filumena Marturano
Marcello Mastroianni ......Domenico Soriano
Aldo Puglisi......................Alfredo
Tecla Scarano....................Rosalia
Vito Morriconi...................Ricardo
Generoso Cortini................Michele
Marilù Tolo........................Diana
Gianni Ridolfi....................Umberto
Pia Lindstrom.....................a caixeira
Vincenza di Capua.............Matilde
SINOPSE
Filumena Marturano -uma antiga prostituta- foi, simultaneamente e durante vários anos, a fogosa amante e dedicada serva de Domenico Soriano, um abastado comerciante de Nápoles.
Mas, Soriano pretende agora desposar uma sua empregada. Uma mulher bela, jovem e com um passado impoluto. Perante a imperdoável traição do seu companheiro de sempre, Filumena simula uma doença súbita, que, na opinião do clínico chamado à sua cabeceira, lhe provocará a morte num curtíssimo espaço de tempo.
Invocando razões de natureza religiosa, Filumena apela à compaixão de Domenico, implorando-lhe que case com ela para que, assim, a moribunda não tenha que apresentar-se diante do Criador em estado de pecado mortal. Perante as súplicas da sua infeliz companheira e na perspectiva de enviuvar quase imediatamente, Domenico Soriano cede ao pedido; manda chamar um padre e contrai casamento com a mulher que ele próprio havia resgatado de um bordel da cidade.
Mas, logo após a cerimónia matrimonial e tal como havia magicado, Filumena recupera imediatamente a saúde e a vitalidade e, por vingança, revela ao infiel companheiro alguns dos segredos que guardara no mais íntimo do seu ser; nomeadamente o de ser mãe de três rapazes, sendo que um deles é filho do egocêntrico Soriano.
Furioso, Domenico expulsa Filumena de casa e da sua vida e recorre aos tribunais para anular o casamento. Mas, pouco tempo depois, ele trava conhecimento com os filhos de Filumena e o seu instinto paterno e também o amor que ele ainda sente por aquela que foi verdadeiramente a mulher da sua vida vão sobrepor-se aos seus mesquinhos preconceitos de burguês e acabam por provocar uma nova aproximação da sua ex-amante e efémera esposa...
O MEU COMENTÁRIO
Inspirada na famosa peça de teatro «Filumena Marturano», da autoria de Eduardo de Filippo, esta fita apresenta-se como uma das obras de maior sucesso de Vittorio de Sica. Realizador que, como é sabido, já nos havia oferecido êxitos da envergadura de «Sciuscià», «O Ladrão de Bicicletas», «Milagre em Milão», «Umberto D» ou «As Duas Mulheres».
Ambientada em Nápoles (cidade onde quer a tradição fílmica italiana que passeiem de mãos dadas a tragédia e a facécia), esta comédia alcançou um enorme sucesso internacional, nomeadamente nos Estados Unidos, país onde «Matrimonio à Italiana» logrou obter duas nomeações para o Óscar do Melhor Filme Estrangeiro, além de ter arrecadado um Goden Globe na mesma categoria. Um aplauso franco e unânime premiou, também, o trabalho de Sofia Loren (no papel da petulante Filumena) e de Marcello Mastroianni, actores que, nesta película, se entregaram profissionalmente a fundo, prendando-nos com interpretações verdadeiramente inesquecíveis.
Vittorio de Sica cometeu, quanto a ele, a façanha de nos contar em pouco mais de uma hora e meia uma história que se prolonga pelos primeiros 20 anos do pós-guerra italiano. E isso, graças a uma narração habilidosamente concisa dos amores e desamores de Filumena e de Domenico.
Título original : «Matrimonio all’Italiana»
Origem : Itália
Género : Comédia
Realização : Vittorio de Sica
Ano de estreia : 1964
Guião : Leo Benvenutti, Renato Castellani, Tonino Guerra...
Fotografia (c) : Roberto Gerardi
Música : Armando Trovaioli
Montagem : Adriana Novelli
Produção : Carlo Ponti
Distribuição : C.C. Champion/Les Films Concordia
Duração : 104 minutos
FICHA ARTÍSTICA
Sofia Loren ......................Filumena Marturano
Marcello Mastroianni ......Domenico Soriano
Aldo Puglisi......................Alfredo
Tecla Scarano....................Rosalia
Vito Morriconi...................Ricardo
Generoso Cortini................Michele
Marilù Tolo........................Diana
Gianni Ridolfi....................Umberto
Pia Lindstrom.....................a caixeira
Vincenza di Capua.............Matilde
SINOPSE
Filumena Marturano -uma antiga prostituta- foi, simultaneamente e durante vários anos, a fogosa amante e dedicada serva de Domenico Soriano, um abastado comerciante de Nápoles.
Mas, Soriano pretende agora desposar uma sua empregada. Uma mulher bela, jovem e com um passado impoluto. Perante a imperdoável traição do seu companheiro de sempre, Filumena simula uma doença súbita, que, na opinião do clínico chamado à sua cabeceira, lhe provocará a morte num curtíssimo espaço de tempo.
Invocando razões de natureza religiosa, Filumena apela à compaixão de Domenico, implorando-lhe que case com ela para que, assim, a moribunda não tenha que apresentar-se diante do Criador em estado de pecado mortal. Perante as súplicas da sua infeliz companheira e na perspectiva de enviuvar quase imediatamente, Domenico Soriano cede ao pedido; manda chamar um padre e contrai casamento com a mulher que ele próprio havia resgatado de um bordel da cidade.
Mas, logo após a cerimónia matrimonial e tal como havia magicado, Filumena recupera imediatamente a saúde e a vitalidade e, por vingança, revela ao infiel companheiro alguns dos segredos que guardara no mais íntimo do seu ser; nomeadamente o de ser mãe de três rapazes, sendo que um deles é filho do egocêntrico Soriano.
Furioso, Domenico expulsa Filumena de casa e da sua vida e recorre aos tribunais para anular o casamento. Mas, pouco tempo depois, ele trava conhecimento com os filhos de Filumena e o seu instinto paterno e também o amor que ele ainda sente por aquela que foi verdadeiramente a mulher da sua vida vão sobrepor-se aos seus mesquinhos preconceitos de burguês e acabam por provocar uma nova aproximação da sua ex-amante e efémera esposa...
O MEU COMENTÁRIO
Inspirada na famosa peça de teatro «Filumena Marturano», da autoria de Eduardo de Filippo, esta fita apresenta-se como uma das obras de maior sucesso de Vittorio de Sica. Realizador que, como é sabido, já nos havia oferecido êxitos da envergadura de «Sciuscià», «O Ladrão de Bicicletas», «Milagre em Milão», «Umberto D» ou «As Duas Mulheres».
Ambientada em Nápoles (cidade onde quer a tradição fílmica italiana que passeiem de mãos dadas a tragédia e a facécia), esta comédia alcançou um enorme sucesso internacional, nomeadamente nos Estados Unidos, país onde «Matrimonio à Italiana» logrou obter duas nomeações para o Óscar do Melhor Filme Estrangeiro, além de ter arrecadado um Goden Globe na mesma categoria. Um aplauso franco e unânime premiou, também, o trabalho de Sofia Loren (no papel da petulante Filumena) e de Marcello Mastroianni, actores que, nesta película, se entregaram profissionalmente a fundo, prendando-nos com interpretações verdadeiramente inesquecíveis.
Vittorio de Sica cometeu, quanto a ele, a façanha de nos contar em pouco mais de uma hora e meia uma história que se prolonga pelos primeiros 20 anos do pós-guerra italiano. E isso, graças a uma narração habilidosamente concisa dos amores e desamores de Filumena e de Domenico.
BARREIRENSE ! BARREIRENSE ! BARREIRENSE !
Na minha juventude cheguei a ser sócio dessa prestigiosa agremiação desportiva (e não só), que se chama Futebol Clube Barreirense. Embora nunca tenha sido um ‘doente da bola’, admito que gostava de ir ver jogar ao agora demolido campo D. Manuel de Mello (então tão careca como a mona do Yul Brynner), a mais popular equipa da terra. E isto desde os tempos, quase imemoriais, do Franciaco Silva, do Ricardo Vale, do Silvino e dos seus pares. Todos já desaparecidos, presumo eu. Recordo-me, ainda melhor, como é óbvio, da época dos Bráulio, José Augusto (o melhor nº 7 de sempre do futebol português, na minha opinião), Faia, etc. Depois fui para o estrangeiro e o Barreirense transformou-se numa agradável recordação, como tantas outras que eu guardei do Barreiro e de Portugal. Em 1970 recebi em França o postal aqui reproduzido, que mostra a equipa do F.C.B. que, nesse ano, havia alcançado um honroso 4º lugar, no campeonato de futebol da 1ª divisão nacional. O seu melhor resultado de sempre nessa disciplina. Nesta cartolina colorida, reconheço alguns dos atletas fotografados; mas daquele que eu melhor me lembro é do Bandeira (quarto de pé a contar da esquerda), que foi meu vizinho na rua Nagar-Aveli, no bairro da Quinta da Lomba, hoje vila de Santo André.
CASTELO DE ALMOUROL : UMA JÓIA DA NOSSA ARQUITECTURA MILITAR MEDIEVAL QUE MERECIA MELHOR SORTE
Erigido numa ilhota granítica do Tejo, um pouco a juzante da confluência deste rio com o Zêzere (seu tributário), o castelo de Almourol foi mandado edificar na última metade do século XII por D. Gualdim Pais, que era, nesse tempo e em Portugal, mestre da ordem militar-religiosa dos Templários.
Devido à singularidade da sua situação, o castelo de Almourol (que aquando da ocupação árabe da península, pertenceu à linha de defesa do Tejo) é uma das mais admiradas fortalezas medievais portuguesas.
É ponto assente que o castelo de Almourol foi construído pelos nossos antepassados sobre as ruínas de uma antiga fortificação romana e posteriormente sarracena; como o atestam as moedas cunhadas em Roma e os artefactos de origem islâmica encontrados na ilhota onde assentam as muralhas, os torreões e a altaneita torre de menagem de Almourol. Castelo ao qual também estão ligadas algumas lendas de princesas encantadas e de cavaleiros andantes. Note-se, a título de curiosidade, que a mais conhecida de todas essas lendas é a da bela dama Misaguarda, referida no «Palmeirm de Inglaterra», um famoso (e tardio) romance de cavalaria da autoria do literato quinhentista Francisco de Morais.
Aquando de uma recente passagem pelo concelho de Vila Nova da Barquinha, fiz nova e breve visita ao castelo em apreço. Para verificar, com tristeza, a inexistência de uma autêntica estrutura turística que valorize este bonito e valioso edifício medievo e o quadro paisagístico em que o dito se emoldura de maneira explendorosa.
A visita exterior do monumento (e pouco mais) é facultada por um barqueiro que, mediante o pagamento de uma módica quantia, permite o acesso dos interessados à ilhota fluvial. É, no entanto, lamentável, repito, que as autoridades nacionais e regionais não tenham querido (ou sabido) explorar turisticamente –e de maneira séria- esta jóia da nossa arquitectura militar; e que não proporcionem aos nacionais e estrangeiros de passagem pela bonita região do Ribatejo oriental onde se ergue o castelo de Almourol, as condições que lhes dêem vontade de voltar. Acho que isso se conseguiria com a instalação no interior da fortaleza de um museu (pequeno que fosse) consagrado à Idade Média em Portugal ou à história da ordem dos Templários no nosso país. E com a organização de visitas devidamente guiadas e comentadas por especialistas nessas matérias.
Enfim, só mais um desabafo : exigir aos tais responsáveis (nacionais ou regionais) que incrementem essa forma de turismo alternativo ao do sol e das praias talvez seja ‘demasiada areia para as suas camionetas’, como sói dizer-se. E assim, quem fica a perder com tal ausência de ideias e de iniciativas são, concerteza, a economia local (particularmente o comércio) e, afinal, o país inteiro, que se vê privado da oportunidade de explorar as potencialidades oferecidas pela beleza dos sítios naturais do interior, pelo esquecimento a que são votados alguns dos seus mais belos e emblemáticos monumentos e pelo prejuízo inerente à falta de divulgação do seu rico passado histórico.
Alguns farão a pergunta : Ok, mas onde iríamos nós buscar as elevadas verbas que tal política exige ? –E eu responderia (por não ter encontrado nada de melhor, confesso) : ao sítio onde fomos buscar a ‘massa’ para construir os estádios (semi-abandonados) do programa Euro 2006 e à bolsa de onde se saca o ‘carcanhol’ para a realização daquelas autoestradas por onde ninguém circula. Tenho dito.
Devido à singularidade da sua situação, o castelo de Almourol (que aquando da ocupação árabe da península, pertenceu à linha de defesa do Tejo) é uma das mais admiradas fortalezas medievais portuguesas.
É ponto assente que o castelo de Almourol foi construído pelos nossos antepassados sobre as ruínas de uma antiga fortificação romana e posteriormente sarracena; como o atestam as moedas cunhadas em Roma e os artefactos de origem islâmica encontrados na ilhota onde assentam as muralhas, os torreões e a altaneita torre de menagem de Almourol. Castelo ao qual também estão ligadas algumas lendas de princesas encantadas e de cavaleiros andantes. Note-se, a título de curiosidade, que a mais conhecida de todas essas lendas é a da bela dama Misaguarda, referida no «Palmeirm de Inglaterra», um famoso (e tardio) romance de cavalaria da autoria do literato quinhentista Francisco de Morais.
Aquando de uma recente passagem pelo concelho de Vila Nova da Barquinha, fiz nova e breve visita ao castelo em apreço. Para verificar, com tristeza, a inexistência de uma autêntica estrutura turística que valorize este bonito e valioso edifício medievo e o quadro paisagístico em que o dito se emoldura de maneira explendorosa.
A visita exterior do monumento (e pouco mais) é facultada por um barqueiro que, mediante o pagamento de uma módica quantia, permite o acesso dos interessados à ilhota fluvial. É, no entanto, lamentável, repito, que as autoridades nacionais e regionais não tenham querido (ou sabido) explorar turisticamente –e de maneira séria- esta jóia da nossa arquitectura militar; e que não proporcionem aos nacionais e estrangeiros de passagem pela bonita região do Ribatejo oriental onde se ergue o castelo de Almourol, as condições que lhes dêem vontade de voltar. Acho que isso se conseguiria com a instalação no interior da fortaleza de um museu (pequeno que fosse) consagrado à Idade Média em Portugal ou à história da ordem dos Templários no nosso país. E com a organização de visitas devidamente guiadas e comentadas por especialistas nessas matérias.
Enfim, só mais um desabafo : exigir aos tais responsáveis (nacionais ou regionais) que incrementem essa forma de turismo alternativo ao do sol e das praias talvez seja ‘demasiada areia para as suas camionetas’, como sói dizer-se. E assim, quem fica a perder com tal ausência de ideias e de iniciativas são, concerteza, a economia local (particularmente o comércio) e, afinal, o país inteiro, que se vê privado da oportunidade de explorar as potencialidades oferecidas pela beleza dos sítios naturais do interior, pelo esquecimento a que são votados alguns dos seus mais belos e emblemáticos monumentos e pelo prejuízo inerente à falta de divulgação do seu rico passado histórico.
Alguns farão a pergunta : Ok, mas onde iríamos nós buscar as elevadas verbas que tal política exige ? –E eu responderia (por não ter encontrado nada de melhor, confesso) : ao sítio onde fomos buscar a ‘massa’ para construir os estádios (semi-abandonados) do programa Euro 2006 e à bolsa de onde se saca o ‘carcanhol’ para a realização daquelas autoestradas por onde ninguém circula. Tenho dito.
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Este livrinho (que agora acabei de ler) é precioso. Porque condensa no breve espaço de 170 páginas a saga da CUF do Barreiro; e porque instrói os seus leitores sobre o proveito retirado por muitos milhares de trabalhadores e respectivas famílias, da implantação e permanência das fábricas de Alfredo da Silva naquela terra da margem sul do Tejo. Há, ainda hoje, muita gente que se entrega a exercícios intelectuais sobre o paternalismo do grande industrial e outras balelas. A verdade, porém, é que esse grande homem do século XX português, e a sua descendência, ofereceram aos barreirenses (de raíz ou de adopção) algo que nunca nenhum outro patrão lhes oferecera; nem antes, nem durante, nem depois deles. Abdicando de parte substancial dos lucros gerados pelas suas fábricas, os Silvas e os Mellos criaram uma aristocracia de profissionais, garantindo-lhes formação técnica, salários mais elevados e um sem número de regalias de carácter social (nos domínios da assistência médica, da educação, da cultura, do desporto, do lazer, etc) que deixaram saudades a quem pertenceu à chamada família cufista. E eu sei do que falo, porque também trabalhei para o grupo de empresas CUF; porque o meu pai também lá ganhou o pão durante muitos anos, assim como os meus sogros e outros familiares. Enfim, para parafrasear alguém que toda a gente conhece e que, no caso, se referia à democracia, quero dizer que aquela casa era a pior das empregadoras nacionais, à excepção de todas as outras. Quero terminar estas linhas -ao mesmo tempo que recomendo empenhadamente a leitura desta interessantíssima obra de Jorge Morais, editada pela Bizâncio- com o testemunho seguinte : o meu progenitor sofreu (em finais dos anos 50) um grave acidente nas fábricas do Barreiro, na chamada Zona Cobre. Por essa razão, esteve internado no Hospital da CUF cerca de um ano e ali foi submetido a diversas intervenções cirúrgicas pela elite portuguesa da especialidade. Apesar dos cuidados que lhe foram dispensados, os médicos encararam a hipótese de lhe amputar a perna direita. E contaram-lhe o historial dos esforços que fizeram no sentido de evitar essa intervenção com consequências tão dramáticas, tanto do ponto de vista físico, como psicológico. Acabaram por lhe dizer que a sua sorte estava ligada à eficiência de um medicamento novo, que haviam encomendado, exclusivamente para ele, num laboratório farmacêutico suiço. Para sorte do meu pai, que na altura era um jovem, esse tal remédio correspondeu às expectativas dos médicos e o meu progenitor acabou por conservar a sua perna até falecer, recentemente, com a idade de 83 anos. Sem comentários.
-Quem será este empertigado e barbudo cavalheiro envergando uma farda de general do exército norte-americano do século XIX ?
Segundo rezam as crónicas, o fotografado também foi, além de militar, advogado, escritor e político. No exercício desta sua última actividade, até chegou a ser governador do território do Novo México, futuro estado da União. Foi aí, nessa longínqua e bravia região do Faroeste, que ele teve a ocasião de encontrar um dos ícones da saga westerniana : William Bonney, aliás Billy the Kid. Consta que, durante uma audiência que concedeu ao famoso foragido, o nosso general lhe ofereceu o indulto; isto, naturalmente, se o acima referido pistoleiro aceitasse mudar o rumo da sua vida e se colocasse, definitivamente, do lado conveniente da lei. Tal não aconteceu, porém, e o ‘bad boy’ do Novo México acabou (como se sabe) varado pelas balas do revólver de um agente da autoridade chamado Pat Garrett. O cinema hollywoodiano tomou conta da ocorrência e relatou os ‘factos’ em 1001 versões fílmicas. Mas, coisa curiosa, raramente se referiu ao general-governador da nossa foto-enigma, ao homem que quis regenerar uma das mais folclóricas e tristes figuras do Oeste americano. Mas, a verdade, é que a indústria do cinema não esqueceu o general barbudo, nem, sobretudo, o romance ao qual ele consagrou ferverosamente os últimos anos da sua vida. E fez de duas adaptações fílmicas dessa obra monumental, outras tantas películas de sucesso e que permanecerão para sempre na memória de gerações de cinéfilos. A primeira dessas versões data do tempo do cinema mudo e foi realizada, em 1925, por Fred Niblo; que ofereceu o papel de herói da fita ao famosíssimo Ramon Novarro. A segunda versão fílmica do livro do general –sem dúvida, a mais conhecida- data de 1959, foi dirigida por William Wyler e tem como incontestável vedeta o excelente actor Charlton Heston. A película em questão (uma superprodução a cores e écrã largo, de 212 minutos de duração, foi galardoada com inúmeros prémios, de entre os quais se realçam 11 Óscares da Academia de Cinema ! É um filme colossal, que requereu 10 anos de preparação, 14 meses de rodagem e a participação de 100 000 actores e figurantes.
–Então estimado leitor, com estas dicas, já conseguiu desvendar o mistério da foto-enigma ?
Se tal não for o caso, cá vai a resposta a este inofensivo passatempo : o nosso homem é LEWIS WALLACE, insigne autor do romance «Ben-Hur».
Segundo rezam as crónicas, o fotografado também foi, além de militar, advogado, escritor e político. No exercício desta sua última actividade, até chegou a ser governador do território do Novo México, futuro estado da União. Foi aí, nessa longínqua e bravia região do Faroeste, que ele teve a ocasião de encontrar um dos ícones da saga westerniana : William Bonney, aliás Billy the Kid. Consta que, durante uma audiência que concedeu ao famoso foragido, o nosso general lhe ofereceu o indulto; isto, naturalmente, se o acima referido pistoleiro aceitasse mudar o rumo da sua vida e se colocasse, definitivamente, do lado conveniente da lei. Tal não aconteceu, porém, e o ‘bad boy’ do Novo México acabou (como se sabe) varado pelas balas do revólver de um agente da autoridade chamado Pat Garrett. O cinema hollywoodiano tomou conta da ocorrência e relatou os ‘factos’ em 1001 versões fílmicas. Mas, coisa curiosa, raramente se referiu ao general-governador da nossa foto-enigma, ao homem que quis regenerar uma das mais folclóricas e tristes figuras do Oeste americano. Mas, a verdade, é que a indústria do cinema não esqueceu o general barbudo, nem, sobretudo, o romance ao qual ele consagrou ferverosamente os últimos anos da sua vida. E fez de duas adaptações fílmicas dessa obra monumental, outras tantas películas de sucesso e que permanecerão para sempre na memória de gerações de cinéfilos. A primeira dessas versões data do tempo do cinema mudo e foi realizada, em 1925, por Fred Niblo; que ofereceu o papel de herói da fita ao famosíssimo Ramon Novarro. A segunda versão fílmica do livro do general –sem dúvida, a mais conhecida- data de 1959, foi dirigida por William Wyler e tem como incontestável vedeta o excelente actor Charlton Heston. A película em questão (uma superprodução a cores e écrã largo, de 212 minutos de duração, foi galardoada com inúmeros prémios, de entre os quais se realçam 11 Óscares da Academia de Cinema ! É um filme colossal, que requereu 10 anos de preparação, 14 meses de rodagem e a participação de 100 000 actores e figurantes.
–Então estimado leitor, com estas dicas, já conseguiu desvendar o mistério da foto-enigma ?
Se tal não for o caso, cá vai a resposta a este inofensivo passatempo : o nosso homem é LEWIS WALLACE, insigne autor do romance «Ben-Hur».
terça-feira, 22 de setembro de 2009
HERÁLDICA MUNICIPAL (2)
O brasão de armas que hoje apresento aos nossos hipotéticos leitores é o da Gafanha da Nazaré. Uma cidade do concelho de Ílhavo e do distrito de Aveiro povoada por gente com grandes tradições na pesca longínqua. De modo que é naturalíssimo que o seu escudo municipal exiba, enquanto elemento nuclear, um bonito lugre bacalhoeiro. Presumo que a grinalda de flores e ramagens que o envolve seja, apenas, de natureza decorativa. Confesso que ando há meses para fazer uma visita a esta terra de trabalhadores do mar. Espero que calhe antes do 15 de Outubro do ano em curso, para poder aproveitar a viagem e ir ao museu de Ílhavo admirar a exposição que lá se encontra patente : «Frota de Paz em Mares de Guerra». Não me posso referir à Gafanha, sem precisar que é nesta cidade que está sedeada a firma (ligada à indústria piscatória) Pascoal & Filhos, que, em boa hora, adquriu e está a restaurar os magníficos lugres «Santa Maria Manuela» e «Árgus»; navios com nome e com pergaminhos na epopeia da pesca do bacalhau. Recordo que esta secção consagrada à heráldica municipal nada (ou quase nada) tem a ver com essa ciência auxiliar da História. Limita-se, simplesmente, a mostrar brasões originais e/ou curiosos e a evocar (ao de leve) as terras com as quais tais símbolos se identificam.
MAS QUE GARBOSO EMBAIXADOR !...
A integralidade do pano de um veleiro de grande porte como o navio-escola «Sagres» (da Armada Portuguesa) só se desfralda, geralmente, em mar aberto. Mas, para se mostrar em todo o seu explendor, este embaixador itinerante do nosso país fê-lo aqui, na eclusa de acesso ao porto de Saint Malo (França). Simplesmente belo ! O escrevinhador de serviço neste blog, teve a honra e o proveito de fazer uma viagem inesquecível de 8 horas a bordo deste navio. Foi em 2002, se a memória não lhe falha, no percurso Ruão-Havre. As imagens –belíssimas- do verdejante vale do Sena ainda hoje lhe povoam a mente...
LE TRAIT - FONTE DE LABOR ENTRE 1917 E 1976
Os estaleiros navais de Le Trait, implantados num meandro do rio Sena e situados a distância quase igual de Ruão e do Havre, foram fundados em 1917. E fecharam em 1976, depois de 7 longos anos de luta do seu pessoal (fabril e administrativo) pela sua manutenção. No decurso de mais de meio século de história, esta unidade industrial –reputada pela competência profissional dos seus operários e dos seus quadros- realizou 208 navios de todos os tipos e de todos os tamanhos. Eu tive a ocasião e o privilégio de participar na construção de alguns deles, nomeadamente na do último, um navio-frigorífico de grande porte destinado à frota da União Soviética. Este estaleiro, que passou por vicissitudes várias, como a ocupação alemã (entre 1941 e 1945) e o bombardeamento por aparelhos Boeing B-17 ‘Flying Fortress’ da aviação ianque (no dia 24/08/1942), deixou um vazio na região, que se havia desenvolvido em razão da sua existência. E que, depois, entrou em letargia. Daqui saúdo as muitas pessoas que ali conheci e com as quais trabalhei na década de 60. Do século passado, obviamente.