O vapor «Lisbonense» foi a segunda embarcação assim baptizada a operar entre as duas margens do Tejo, na qualidade de transporte de passageiros. Este cacilheiro foi construído na Bélgica, nos estaleiros de John Cockerill, em Hoboken(*), no ano de 1901. Usou (primitivamente e por curto espaço de tempo) o nome de «Rainha Dona Amélia». Pertenceu à frota da Parceria de Vapores Lisbonenses e apresentava as seguintes características : casco de aço; 299 toneladas de arqueação bruta; 4o,40 metros de comprimento; 8 metros de boca; 2,65 metros de pontal. Era movido por 2 máquinas de tríplice expansão (desenvolvendo 400 cv de potência) e por 2 hélices. Para além de ter assegurado o transporte regular de pessoas entre Lisboa e a Outra Banda (sobretudo a ligação com Cacilhas), o «Lisbonense» também foi utilizado em excursões fluviais no Tejo (Vila Franca de Xira, Azambuja) e em passeios pelo litoral (baía de Cascais, praia das Maçãs). Este cacilheiro sofreu trabalhos de transformação em 1903, de modo a poder receber a bordo veículos automóveis. O seu armador alugou-o, em 1918, à empresa portuense Fretamentos Marítimos Lda., que o utilizou no transporte de mercadorias diversas para portos estrangeiros. A sua derradeira e fatídica viagem iniciou-se em Leixões no dia 22 de Agosto desse mesmo ano. No dia seguinte, quando o «Lisbonense» nevegava para Bristol (Grã-Bretanha), foi interceptado ao largo do cabo Prior (Galiza) por um navio de guerra alemão (submarino ?), que o metralhou e afundou. Curiosidade : este velho cacilheiro dispunha de um seguro de 200 contos de réis numa companhia lisboeta. A sua destruição durante a Grande Guerra provocou a falência da dita, de modo que o seu proprietário só seria (parcialmente) indemnizado alguns anos depois da perda do navio.
(*) O escrevinhador destas linhas trabalhou, algum tempo, nesse estaleiro do rio Escalda. Onde foram construídos para a marinha mercante portuguesa alguns navios; nomeadamente (e entre outros) os quase lendários paquetes «Vera Cruz» e «Santa Maria». Este articuleto foi publicado (ligeiramente modificado), em 2011, no blogue ALERNAVIOS, também de sua responsabilidade.
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