quinta-feira, 22 de março de 2018

A ESSÊNCIA DOS NOSSOS POETAS



BENÇÃOS

Bem hajas, oh luz do sol,
Dos órfãos agasalho e manto,
Imenso, eterno farol
Deste mar largo de pranto!

Bem hajas, água da fonte,
Que não desprezas ninguém!
bem haja a urze do monte,
Que é lenha de quem não tem!

Bem hajam rios e relvas,
Paraíso dos pastores!
Bem hajam aves das selvas,
Música dos lavradores!

Bem haja o reino dos céus,
Que aos pobres dá graça e luz!
Bem haja o templo de Deus,
Que tem sacramento e cruz!

Bem haja o cheiro da flor,
Que alegra o lidar campestre;
E o regalo do pastor,
A negra amora silvestre!

Bem haja o repouso à sesta
Do lavrador e da enxada;
E a madressilva modesta,
Que espreita à beira da estrada!

Triste de quem der um ai
Sem achar eco em ninguém!
Felizes os que têm pai,
Mimosos os que têm mãe!


** Tomás Ribeiro (1831-1901), in «D. Jaime» (obra publicada em 1862). Escritor português pertencente à escola ultra-romântica. Com a etiqueta do Partido Regenerador, Ribeiro exerceu vários cargos políticos, pois foi edil, deputado, par do Reino, ministro, governador civil, administrador colonial, embaixador, etc. Deixou-nos vasta obra publicada, tanto de cariz poético, como em prosa **

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