Quem tem muito dinheiro para gastar (o que não é o caso do escriba de serviço, que sofre de pelintrice crónica) é capaz de 'feitos' extraordinários. Como, por exemplo, comprar um pacotinho de café em grão Kopi Luwak -produzido lá para as indonésias- que custa a bagatela de várias centenas de euros por quilograma. Parece que há, em estabelecimentos elegantes de Nova Iorque ou de Londres, quem chegue a pagar por esse cafezinho cerca de 100 dólares por chávena... Ingerir tal beberagem em sociedade (e referindo repetidamente, já se vê, o seu exorbitante preço) tornou-se, assim, chiquérrimo e (obviamente) revelador do alto estatuto social dos seus amadores. O Kopi Luwak seria, originalmente, coisa banal, um café como os outros, não fossem os frutos que o produzem constituirem a guloseima preferida de um bicharoco asiático -uma espécie de civeta- também apreciar o seu cafezinho quotidiano. Só que ela, a civeta, tem um estômago tão delicado que, das bagas dos cafeeiros, só digere a parte carnuda. Sendo o resto -o grão de café- rejeitado pelo seu organismo sob forma de dejecções, de excrementos. É aí que o homem intervém, recolhendo a caca do animal e dela recuperando o seu conteúdo sólido. Este é, posteriormente, lavado e torrefeito, antes de ser colocado no mercado. Onde atinge (como já acima se disse) preços verdadeiramente proibitivos. Parece que, devido a uma alquimia operada no estômago da civeta, os grãos ganham um aroma e um sabor particular próximos (tal como alguns os descrevem) «de uma mistura de chocolate e sumo de uvas». A moda engendrada pelos 'apreciadores' de Kopi Luwak (termos que significam, literalmente, 'café de civeta'), levou à quase extinção das civetas no seu habitat natural. Vivem agora em grande número em cativeiro, sendo alimentadas, nas suas gaiolas, com grãos de café; passando a sua única função ser a de defecar os ditos, na sequência das barrigadas impostas pelos seus donos. É triste, mas é a realidade. Já aqui me queixei da minha permanente falta de 'carcanhol' (como se alguém fosse responsável por isso), mas uma coisa é certa : mesmo que eu nadasse em dinheiro, acho que não seria consumidor de tão 'sofisticada iguaria'. Sou uma pessoa de gostos comuns, que tem grande apreço pelas coisas simples da vida. Para mim basta-me, de quando em vez, degustar uma pequena xícara de café do Brasil ou de Angola. Que eu saboreio 'sans arrières pensées', até porque sei que esse acto banal jamais contribuirá para dizimar ou para tirar a liberdade às civetas cagonas da Insulíndia.
Dejectos da civeta cafeeira. Bom apetite !
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