quarta-feira, 11 de outubro de 2017

EU AINDA ME LEMBRO...

Andava eu aí prelos meus 14/15 anos de idade quando os jornais (portugueses, mas não só) enchiam as suas páginas com notícias sobre a sorte de um certo Caryl Chessmam, um cidadão norte-americano condenado à pena capital e que aguardava -no chamado corredor da morte- a aplicação dessa sentença; que fora pronunciada em tribunal havia já 12 anos... A máquina policial-judiciária ianque apurara, depois de se ter procedido à detenção do criminoso, que o supracitado cometera vários delitos gravíssimos (assaltos à mão armada, violações, sequestros) e, como é seu hábito ainda hoje, decidira eliminá-lo fisicamente, sentando-o na horrível máquina de matar que é a cadeira eléctrica. Macabro engenho, que nós por cá só conhecemos dos filmes. As opiniões públicas de muitos países levantaram-se, pois, a favor da sua graça, ou melhor, pediam à justiça dos Estados Unidos a substituição da pena capital por uma condenação a prisão perpétua. -Pergunta-se, porquê essa clemência generalizada ? Porque, passado tanto tempo atrás das grades (12 longos anos), o homem era, por muitos, considerado regenerado. Na cadeia (sob a pressão constante de uma execução iminente) ele adoptara uma atitude passiva, aprendera 4 línguas e ainda se dera ao trabalho de escrever vários livros. Sendo que um dele, «2455, Cela da Morte» foi um enorme sucesso de vendas nos EUA e um 'best seller' mundial. Quem não modificou a sua opinião a favor de Chessman foram as instâncias jurídico-prisionais dos 'states' que, no dia 2 de Junho de 1960(*), na prisão federal de San Quentin, acabaram por cumprir a decisão dos tribunais. Chessman perdeu a vida na câmara de gás, pelo facto desse meio de execução ser, então, considerado 'mais humano' do que a cadeira eléctrica(**). Depois de consumado, o suplício do presidiário-escritor levantou, como seria de esperar, grande alarido na imprensa e na opinião pública (nomeadamente no seio das organizações que lutavam contra a pena de morte), até que, pouco a pouco, o caso caiu no esquecimento. E hoje, praticamente, já ninguém se recorda daquele que foi o mais famoso condenado à morte dos Estados Unidos do seu tempo, superando em popularidade outros executados famosos, tais como Sacco e Vanzetti ou os Rosenberg... Entretanto, a máquina de matar estadunidense continua a ceifar vidas a bom ritmo, até hoje. Eu era, no tempo de Caryl Chessman, um gaiato curioso e, talvez por isso, ainda me lembro...

(*) A execução de Chessman fora (ao longo dos seus anos de detenção) adiada 8 vezes, mercê de vários pedidos de indulto apresentados pelos seus advogados; e que falharam todos.
(**) Durante a sua execução, Caryl Chessman abanou várias vezes a cabeça de um lado para o outro, sinal (previamente combinado com um jornalista) de que o envenenamento com gás letal fazia sofrer.


Em finais da década de 50 a celebridade de Caryl Chessman -o chamado 'Bandido da Lanterna Vermelha'- era de tal ordem, que a revista «Time» lhe consagrou uma capa...

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