Chamaram-lhe o bispo comunista, o bispo vermelho, o bispo dos pobres. Tudo menos o bispo corajoso, o pastor desafrontado, que -em décadas passadas- clamou justiça para os desprotegidos da sua diocese, para as gentes de Setúbal, flageladas pela fome(*) e por condições de vida insuportáveis, que passavam pela habitação em barracas degradadas, pelo desemprego, pelos salários em atraso, pelo trabalho infantil, etc. Chamaram-lhe tudo, menos aquilo que ele sempre foi : um homem, um grande homem solidário com com os Portugueses mais desprotegidos. Com as pessoas de uma terra, cujos políticos continuam a ser incapazes de erradicar a violência engendrada pela pobreza estrema, pois continua a haver por cá 2 milhões e meio de pobres. Miséria -agora mais bem camuflada- que já não deveria ser coisa dos nossos dias. E até, naquele tempo, a própria Igreja, na pessoa dos mais reaccionários e insensatos dos seus príncipes e na de uma conhecida cambada dos louvaminhas, de adeptos do 'venha a nós', o apontaram a dedo. Como se ele não estivesse a cumprir os ensinamentos de amor do Cristo. Morreu (ontem) D. Manuel da Silva Martins, um homem de causas, que deixará muitas saudades neste vale de lágrimas; onde, durante muito tempo, nos faltará o seu exemplo.
(*) O bispo emérito de Setúbal entrou, por várias vezes, em conversas polémicos com os antigos presidente Cavaco e primeiro-ministro Mário Soares sobre a pobreza na sua diocese, tendo este último chegado, cínica e publicamente, a afirmar, «que não havia fome em Setúbal». Enfim, deslizes do pretenso 'pai' da democracia portuguesa; que nos momentos de crise, quase nunca se mostrou à altura daquilo que dele se esperava...
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