A selecção portuguesa sagrou-se, no passado domingo, campeã europeia de futebol, mercê de um golo imparável (marcado no prolongamento) de Éder. Jogador de quem, francamente, não se esperava tal façanha e que se passou, assim (e com todo o mérito), a figurar na nossa galeria dos ídolos da modalidade. Portugal venceu a França na final de um torneio, em que não era favorito, e na qual viu, cedo, a sua máxima estrela eliminada por um gesto inadequado (para não dizer maldoso) de um jogador rival. Mas, graças à coesão, espírito de corpo e à muralha quase intransponível da sua defesa, conseguiu anular o essencial dos ataques gauleses. Vi e ouvi (na TV) muitos comentários de gente despeitada, que não aceitou a derrota; de gente que não achou estranho que Payet não tivesse merecido sequer um cartão amarelo pela sua agressão a Ronaldo; de gente que evoca o chuto de Gignac ao poste, mas que não se lembra minimamente do tiro de Guerreiro à barra; de gente que recorda as dificuldades por que passaram os portugueses na fase de grupos, mas que omitem o facto da nossa selecção ter sido a única -de todo o torneio- que nunca conheceu o sabor amargo da derrota. E assim por diante... É pena, esse mau perder, mas, como diz o outro, 'c'est la vie' ! Aguentem-se com o vosso despeito e com os vossos amargos de boca, enquanto se inscreve o nome de Portugal (e isso é o que mais conta) na lista dos campeões continentais. O que já não era sem tempo... Bravo, pois, aos 23 campeões da Europa e a Fernando Santos, o homem que lhes insuflou o espírito ganhador. Não gostei do imenso arraial (próximo do delírio colectivo) que o acontecimento gerou no nosso país, mas também nas comunidades de emigrantes, como se a conquista de um torneio de futebol (mesmo desta importância) tivesse sido a coisa mais extraordinária da nossa História recente. Um pouco mais de recato, de moderação, não nos teria ficado mal. Não gostei que praticamente todos os canais de televisão tivessem -durante semanas e semanas- desbaratado muitas centenas de horas de antena exclusivamente consagradas ao Europeu de Futebol. Sobretudo em falatório estéril. Caramba ! O mundo não gira à volta disso... Enfim, acho que continuaremos a ser um povo de excessos, incapaz de discernir as coisas sérias do divertimento. Atitude não prenuncia nada de bom. Ah ! Só mais uma coisinha : também não gostei da atitude de certos emigrantes em relação à França, sua terra de acolhimento. Atitude que, extravasando da área do futebol, me pareceram pouco dignas da parte de pessoas que ali encontraram, naquele país, condições para serem felizes, para terem uma vida melhor. O que, como é sabido, nem sempre lhes foi oferecido por cá. Nem antes, nem depois do 25 de Abril. Gostar de Portugal e gozar e aplaudir as suas vitórias desportivas e outras é uma coisa. Ser hostil e ingrato para com a terra que os acolheu e lhes garantiu uma vida mais feliz (para si e para a sua descendência) é, simplesmente, confrangedor. Tenho pena, mas isto tinha que ser dito.
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