segunda-feira, 25 de julho de 2016

DE CAMPEÃO ADULADO A SINISTRO AGENTE DA PIDE


Vi ontem, graças àquela extraordinária e tão útil técnica do 'replay', o 9º episódio da excelente série documental da RTP intitulada «A PIDE antes da PIDE»; que nos esclarece sobre as diferentes polícias de repressão que -desde o 28 de Maio de 1926- cerceou liberdades, perseguiu, prendeu, torturou e assassinou milhares de portugueses. Não vou, obviamente, contar o conteúdo desse episódio da série realizada por Jacinto Godinho e com coordenação científica da historiadora Irene Pimentel. Vou apenas evocar um facto (relatado na série) que eu desconhecia completamente e que diz respeito a uma grande figura do futebol luso dos anos 20 do passado século. Estou a referir-me a António Roquete, o melhor guarda-redes do tempo, que alinhou pelo Casa Pia Atlético Clube e pela selecção nacional. E que brilhou, internacionalmente, nos Jogos Olímpicos de Amesterdão, realizados naquela cidade dos Países Baixos em 1928. Pois, pelo que soube ontem, com grande surpresa confesso, este ídolo (que, afinal, tinha pés de barro) era um tipo de baixo estofo moral e de cruéis instintos, que chegou a inspector da sinistra PVDE (antecessora da não menos assustadora PIDE). Nomeado, em 1933, para o posto da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado de Valença do Minho, aquele que foi um dos maiores futebolistas do seu tempo, ganhou ali fama de zeloso torcionário do salazarismo. Ali e do outro lado da fronteira, na Galiza, onde um jornal local 'falou' assim do pide-guarda redes : «En Valença tiene habido muchos jefecillos de policia más o menos hipocratas, pero ninguno tan grosero y impertinente como el antiguo jugador de futbol. Educado en la escuela de dar patadas, a penas sabe hacer otra cosa...». Parece que Roquete terminou a sua pidesca carreira na então colónia de Moçambique, onde participou na criação da antena local da polícia repressiva do Estado Novo. Mais tarde tornou-se empresário de exportação de caju. Morreu em 1995.

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