TERRA
Endireitou o busto suado.
O sol traçou a sua sombra esguia
na terra remexida.
Pensou no mar enorme,
nas velas perdidas sobre a vasta monotonia
do mar enorme,
nos temporais e nos naufrágios,
nas vidas perdidas dos marinheiros,
nas lutas inúteis,
na escuridão sem fé do homem nos portos estrangeiros.
Limpou da fronte o suor,
no gesto simbólico de quem faz o sinal da cruz.
– O suor que cai na terra maternal,
leva o milagre fecundante do amor –.
Olhou ao redor,
viu as montanhas altas e tranquilas,
o céu azul,
- sobre o vale pairava um vasto silêncio.
E sentiu-se protegido e abençoado,
seguro e livre na sua doce escravidão antiga.
– O sol desenhou uma sombra no dorso nu, curvado,
e uma enxada cavando, cavando na mãe-terra amiga...
** Manuel Lopes (1907-2005), poeta e prosador de Cabo Verde. Viveu muitos anos da sua vida em Portugal. É considerado um dos pais da moderna literatura cabo-verdiana. Foi um dos fundadores (com Baltasar Lopes da Silva e Jorge Barbosa) da revista «Claridade» Deixou vários livros publicados : de poesia, de ficção e ensaios **
Sem comentários:
Enviar um comentário