sábado, 2 de janeiro de 2016
A PORTA DO NÃO-RETORNO
Esta monumental porta -que é Património Mundial da UNESCO- foi erigida em Ouidah, no Benim, para evocar os muitos milhares de escravos levados desta região da África Ocidental para as colónias europeias das Américas. As esculturas e baixos relevos do monumento (solenemente inaugurado em 1995 -Ano Internacional da Tolerância- pelo ministro de estado Désiré Vieyra) são da autoria do artista Fortuné Bandeira. Foi-lhe dado o sugestivo nome de Porta do Não-Retorno, porque, como é sabido, essas viagens só compreendiam a ida, sem regresso possível para os cativos africanos. O resto desta infeliz história é conhecida de todos : os seres humanos assim transplantados, os que resistiam às agruras de uma horrorosa travessia do Atlântico, eram leiloados nos países de destino e condenados a submeter-se, durante toda a sua vida, ao trabalho forçado e às sevícias aplicadas pelos seus novos mestres. A dramática odisseia dos afro-americanos (dos EUA, do Brasil, de Cuba, etc.) foi, sem dúvida, um dos episódios mais vergonhosos da História da Humanidade. Estou a lembrar-me que vi, recentemente e pela primeira vez, a integralidade da já antiga série televisiva «Raízes», que espelha bem a vida sofrida do povo negro dos 'states'; cujo martírio e vexames perduraram (por incrível que isso possa parecer !) até meados do século passado. Ainda em relação à aqui mostrada Porta do Não-Regresso, quero dizer que a cidade de Ouidah (no Benim, antigo Daomé) se desenvolveu à volta da fortaleza portuguesa de São João Baptista de Ajudá, que foi ocupada pelas autoridades locais em 1956. Essa fortaleza protegeu uma feitoria -ali existente desde o tempo da Descobertas- na qual os nossos antepassados se entregaram ao ignominioso tráfico de seres humanos.
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