sábado, 15 de agosto de 2015

CUBA E E.U.A. VÃO VIRAR MAIS UMA PÁGINA (DIFÍCIL) DA HISTÓRIA COMUM

Ontem, durante os discursos que presidiram à cerimónia de reabertura da embaixada dos Estados Unidos em Cuba, o sr. John Kerry, chefe da diplomacia norte-americana, não resistiu à tentação de falar do género de democracia que ele e o seu país gostariam de ver implementada naquela grande ilha do Caribe. Democracia à americana que, durante os anos do domínio ianque sobre a ilha (quer dizer dos tempos da guerra hispano-americana até à revolução dos barbudos que baniram o 'grande democrata' que foi Fulgencio Batista), sempre favorizou os negócios neo-colonialistas dos seus concidadãos, inclusivamente os daqueles que eram sobejamente conhecidos por pertencerem às máfias do jogo, da prostituição, do contrabando de álcool e de estupefacientes, etc. Isso, num tempo em que uma larga maioria de cubanos vivia na miséria (por não ter trabalho, por ser iletrada e não ter direito à educação, por não ter acesso à saúde, etc.), pagando, assim, as favas da 'generosidade' ianque. Digo isto sem ódio e sem raiva, ao mesmo tempo que aplaudo a iniciativa de Barack Obama e de Raul Castro, por terem ousado por um termo a uma situação anómala, que causou grandes prejuízos económicos (mas não só) a uma nação que 'só' quis ser independente e senhora do seu destino. É evidente que, com o embargo lançado há 54 anos pelos 'states' -que com eles arrastaram, de maneira intimidante, todos os países da América Latina e os seus aliados europeus- a revolução castrista não podia medrar. Porque não há nenhuma nação que consiga viver isolada durante décadas, sem sofrer as consequências dessa situação. Daí, talvez se explique (há historiadores, nomeadamente dos EUA, que já o fizeram) que Fidel tenha recorrido a uma aliança com a União Soviética, que, sacrilégio dos sacrilégios, era a inimiga ideológica dos Estados Unidos e, como toda a gente sabe, foi considerada por esse país a própria encarnação do diabo. O que se passou posteriormente é de todos conhecido : Cuba pôde sobreviver (apesar das imensas dificuldades que atravessou) até hoje. Com o agravamento dos seus problemas, após o desmoronar do universo comunista. Mas sobreviveu a tudo (inclusive a invasões militares patrocinadas pelo seu altivo vizinho do norte) e hoje está a tratar -de igual para igual e não na condição de lacaio para senhor- com a maior potência do planeta, que nunca a pôde dobrar, nem a fazer perder a sua dignidade. Que Cuba não é, nem foi um estado exemplar isso é sabido. Mas nesse aspecto, não são os Estados Unidos que, moralmente, lhe podem apontar o dedo. Porque toda a gente conhece a sua política internacional -apoiada no princípio do posso, quero e mando- que fomentou guerras que perduraram até aos nossos dias e criaram zonas de fricção e de instabilidade permanente neste mundo que é a nossa casa. Porque toda a gente sabe o apoio moral e material que os EUA continuam a dar, por exemplo, a estados como Israel (carrasco do povo palestiniano) e/ou à Arábia Saudita, um dos países mais retrógrados da Terra. Também, em matéria de política interna, todos conhecem aspectos difíceis de entender, como, por exemplo, que os Estados Unidos sejam um dos primeiros países do mundo (a par da China) a condenar à morte e a executar prisioneiros, que, curiosamente, são em maioria de raça negra; que a polícia branca dos 'states' tenha uma propensão muito especial para alvejar e matar membros desse grupo étnico; que milhões dos seus nacionais (de todas as raças) não tenham direito a cuidados mínimos de saúde; etc. Mas esses problemas cabe aos 'states' resolvê-los. Como os de Cuba serão os seus próprios cidadãos que os irão progressivamente solucionar. Estou certo disso. Aos EUA cabe, neste momento, por termo a um injusto e desajustado embargo económico que persiste, apesar da cerimónia de ontem e da troca de galhardetes. Ah, e já agora, para acabar, de vez, com o contencioso entre as duas nações, cabe aos Estados Unidos da América devolver a Cuba (depois de evacuada dos prisioneiros e dos seus torcionários, que a ocupam) aquela porção de território cubano chamada Guantánamo.


Fidel Castro assinando a acta que levou à nacionalização dos bancos americanos em Cuba. Este foi, porventura e aos olhos do governo de Washington, o maior 'crime' cometido pelo regime cubano contra a democracia.

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