segunda-feira, 6 de abril de 2015

«THE SOPRANOS» VS. «LA PIOVRA»

Acabei, há uns dias atrás, de rever toda a saga de «Os Sopranos». Que muita gente considera ser a melhor série de televisão jamais realizada. Acho que todos conhecem esta ficção, cujo foco incide sobre uma família de origem italiana comprometida com a mafia da Nova Jérsia e que tem na figura de Tony Soprano (encarnada por um actor talentoso chamado James Gandolfini ) o seu carismático chefe. As actividades dessa organização criminosa estão muito bem documentadas em todos os episódios e dão para perceber como funciona o crime organizado na costa leste dos 'states'; que infiltra a sociedade civil e as administrações do estado para intimidar, subornar e, se necessário, eliminar todos aqueles que tentem barrar-lhe o caminho. E, igualmente, como ela, ao sentir-se minimamente ameaçada do interior, pode fazer desaparecer brutalmente, sem dó nem piedade, elementos seus que ousem trair o código de conduta das 'famílias'. O problema é que os Sopranos -enriquecidos pelo dinheiro do crime- se insinuam perniciosamente no nosso imaginário, como um clã familiar americano normal e que (por visível vontade da produção) quase chega a ganhar a nossa simpatia... É essa característica, que, a meu ver, torna essa série perigosa; porque quase nos convence da normalidade das suas personagens e da bondade da sua maneira de agir e de estar na vida. Não acham ? -Já a série «O Polvo» (com produção da TV italiana e que eu vi, na íntegra e pela primeira vez, o ano passado) é intransigente nessa matéria. Nela, as famílias mafiosas são apresentadas tal como são na realidade : arrogantes, extremamente ambiciosas, violentas, capazes de cometer as maiores atrocidades para que a 'cosa nostra' permaneça a organização que foi -principalmente na Sicília- durante séculos. Quer dizer, um estado dentro do Estado, que ela vai corroendo 'graças' aos milhões que ela usa (ou usou) para comprar juízes, polícias, funcionários da administração pública e outros elementos corruptos da sociedade, gananciosos e/ou acobardados, dos quais ela se serve (ou serviu) para manter a sua força e poder marginais. Aqui -nesta também excelente série- os mafiosos são mesmo maus, não havendo margem para dúvidas. E os espectadores não têm o mínimo pejo em tomar partido pelos 'bons', que lutam abnegadamente contra um poder diabólico e sem lugar num mundo civilizado, num mundo com regras. Eu, indubitavelmente, sem hesitações, definitivamente, prefiro esta série europeia. Que, diga-se de passagem, também contou com um fabuloso elenco.

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