domingo, 15 de junho de 2014

NA EXTREMADURA PROFUNDA

Ontem passei grande parte do dia (e da noite) em Aceuchal, uma cidadezinha da Extremadura profunda. Esta localidade espanhola está situada a algumas dezenas de quilómetros a sudeste de Badajoz -em plena Terra de Barros- e tem uma população que ultrapassa os 5 500 habitantes. Gente simpática e acolhedora, que convidou o orfeão da comunidade a que pertenço a participar no seu III Concerto de Primavera, que também contou com as participações do agrupamento similar local -o Coral Nuestra Senõra de la Soledad- da Banda Municipal de Música e com a presença de mais um grupo polifónico covidado, o Coral Santa María de la Montaña, de Cáceres. Tudo se passou pelo melhor e, no final da noite, houve uma confraternização gastronómica (que é tradicional nestas ocasiões), durante a qual todos os presentes foram obsequiados com deliciosas especialidades da terra. Este género de manifestações (de carácter cultural e convivial) tem o condão de quebrar o isolamento ao qual nós -alentejanos do interior- fomos condenados por décadas e décadas de abandono do poder central; que nos privou (assim como todos os outros portugueses que fizeram a opção de viver nas suas terras do 'deserto', como tão simpaticamente lhes chamou um senhor ministro) de ter e viver uma existência menos sacrificada e menos medíocre. Estas visitas a outras regiões do nosso país e da vizinha Espanha, ajudam-nos, por outro lado, a compreender quanto a diferenciação entre gentes do litoral e/ou do estrangeiro é injusta para alentejanos, transmontanos e gentes da Beira Interior, de onde os últimos governos têm levado tudo : escolas, centros de saúde, tribunais, repartições de finanças, etc, etc. O que acentua a desertificação e as injustiças. Não conhecia Aceuchal. Para falar verdade, nem nunca antes tinha ouvido falar desta localidade rural, especializada na cultura intensiva de alhos e que está rodeada de olivedos e vinhas a perder de vista. Hoje sei mais. Sei que Aceuchal é uma cidadezinha viva, com numerosa juventude e que, apesar da crise, tem notável actividade comercial. À noite, os muitos e animados cafés e cervejarias  do centro estão repletos de gente; que confraternizam até às tantas. Coisa que aqui para as minhas bandas já não se vê, infelizmente. Também aprendi qualquer coisa sobre a História de uma localidade da qual nunca ouvira falar antes. O que é positivo. Sei, por exemplo, que Aceuchal foi mandada fundar e povoar (no século XII) pelo rei de Afonso XI de Leão e Castela e que, durante a conquista das Américas, alguns dos filhos de Aceuchal participaram activamente na descoberta e desenvolvimento de alguns países do Novo Mundo. Isto é, talvez, muito pouco, mas, só por si e do meu ponto de vista, torna-se relevante, tem a sua importância... Uma das coisas mais curiosas que vi nesta localidade da província de Badajoz foi a estátua do mercador de alhos; personagem humilde, mas que projectou o nome de Aceuchal através de todas as terras de Espanha, onde exerceu o seu negócio. E que, dessa forma, mereceu o agradecimento dos seus conterrâneos, que lhe mandaram erigir esse singular monumento. Mais uma reflexão : por cá é muito raro perpetuar na pedra ou no bronze a memória dos trabalhadores humildes. Curioso, não é verdade ? Num país que se diz livre e democrático...

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