Por ser curioso e deliciosamente 'retro', aqui vos deixo um texto de Raúl Brandão, grande escritor português de tempos passados (1867-1930), que o integrou na sua mais conhecida obra, que ele intitulou «Os Pescadores». O texto em questão, publicado pela primeira vez em 1923, versa sobre o atum e reza assim :
«Do atum aproveita-se tudo.
O melhor para os delicados, em latas mergulhadas em azeite de Castelo Branco - a parte do lombo e da barriga; a carne escura comem-na com pão negro os trabalhadores do Alentejo, e o bucho, as tripas e as orelhas têm amadores apaixonados. Ficam só as cartilagens e os restos que, depois de cozidos em grandes caldeiras, se secam para guano.
Este peixe, que às vezes pesa 10 a 15 arrobas, é, afinal, o porco do mar, e isto de se apanhar de uma vez, como já tem sucedido, uma vara de 2 000 porcos, não é brincadeira nenhuma - tanto mais que um atum vale hoje quinhentos escudos, o antigo preço de uma quinta com casa apalaçada...».
Apaixonante esta obra de um autor -neto e filho de pescadores- que soube falar do mar português e dos homens que dele vivem de maneira magistral.
A propósito dos 500$00 que custava um atum no tempo de Raúl Brandão, quero lembrar que, há uns tempos atrás, um peixe destes (de grandes dimensões e peso) foi arrematado no Japão pela bagatela de... 1 380 000 euros !
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