terça-feira, 22 de outubro de 2013

O FIAT G-212 E A TRAGÉDIA DE SUPERGA

Sempre me interessei pela evolução dos meios de transporte; fossem eles terrestres, marítimos ou aéreos. Razão pela qual escrevo aqui, com uma certa frequência, umas 'coisitas' sobre aviões, navios, etc. Hoje, sem razões especiais para o fazer, só porque sim, apetece-me evocar uma aeronave italiana, que deixou o seu nome -Fiat G.212- ligado a um dos maiores dramas da História do Futebol : a chamada Tragédia de Superga, um 'crash' que dizimou a equipa do Torino, lendária formação transalpina que chegou a ser, na segunda década dos anos 40 (do século XX), o principal esteio da selecção italiana da modalidade. O projecto do G.212 foi elaborado durante o segundo conflito mundial pelo engenheiro Giuseppe Gabrielli; mas, devido a contingências ligadas a esse conturbado período da História da Europa, esta aeronave de transporte civil só foi realizada em 1947, ano em que realizou o seu voo inaugural. O Fiat G.212 era um trimotor de asa baixa, capaz de receber a bordo, segundo as versões, entre 26 e 39 passageiros; para além, naturalmente, dos seus 5 tripulantes. O G.212 descolava um peso máximo de 18 000 kg e apresentava as seguintes dimensões : 23,40 m de comprimento por 29,34 m de envergadura. Os seus mais recentes modelos estavam equipados com 3 propulsores Pratt & Whitney R.1830, cuja potência unitária era de 1 065 cv. A sua velocidade máxima era de 375 km/h, a sua autonomia de 2 500 km e o seu tecto operacional situava-se nos 7 500 m. Desconheço o número de exemplares construídos; sei, no entanto, que alguns deles foram exportados para o Egipto, para França, para o Koweit e para a América do sul. O principal utilizador italiano deste aparelho foi a companhia Avio Linee Italiane (ALI), que chegou a contar, na sua frota, 9 destes aviões comerciais. No que respeita o G.212 que protagonizou o triste acontecimento de Superga, convém dizer que era um avião novinho em folha, saído das fábricas Fiat em 1949. Foi fretado para transportar uma embaixada daquele que era, então, o mais prestigiado 'team' de futebol de Turim e de Itália; que, a convite do Benfica, foi a Lisboa disputar (a 3 de Maio de 1949) um jogo amigável de futebol, em homenagem ao seu ilustre jogador (e capitão) Francisco Ferreira. O jogo do Benfica contra o Torino foi disputado no estádio do Jamor, perante uma multidão calculada em 40 000 pessoas, que não quis perder a oportunidade de ver jogar os tetraacampeões de Itália. O desafio terminou com o resultado de 4-3, favorável aos encarnados. De regresso a Itália e já depois de ter efectuado uma escala técnica em Barcelona, o Fiat G.212 perdeu-se no denso nevoeiro que envolvia os céus do norte de Itália e foi despedaçar-se contra um dos flancos da basílica de Superga, provocando a morte instantânea de todos aqueles que nele viajavam. O drama ocorreu no dia 4 de Maio e vitimou 31 pessoas : 1 passageiro estranho ao clube e à tripulação, os 4 tripulantes da aeronave, 3 jornalistas, 5 funcionários do clube (dirigentes e treinadores) e 18 jogadores, entre os quais figurava o lendário Valentino Mazzola. 10 dos atletas titulares do clube, que pereceram no acidente, eram também titulares da selecção italiana de futebol. Esta tragédia deu lugar a muitas manifestações de pesar, não só em Portugal e na Itália, mas também no mundo inteiro, onde o futebol era (e é) considerado o desporto-rei. O funeral das vítimas do G.212 de Superga foi seguido por meio milhão de pessoas. Apesar da perda da sua equipa principal, o Torino ainda se sagrou, nesse ano de 1949, campeão de Itália. Pela quinta vez consecutiva. Isso aconteceu em circunstâncias tão extraordinárias que, um destes dias, eu também as evocarei neste blogue. Fica prometido !

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