quarta-feira, 5 de setembro de 2012

A ESSÊNCIA DOS NOSSOS POETAS


«TEJO QUE LEVAS AS ÁGUAS»

Tejo que levas as águas

correndo de par em par

lava a cidade de mágoas

leva as mágoas para o mar



Lava-a de crimes espantos

de roubos, fome, terror,

lava a cidade de quantos

do ódio fingem amor



Leva nas águas as grades

de aço e silêncio forjadas

deixa soltar-se a verdade

das bocas amordaçadas



Lava bancos e empresas

dos comedores de dinheiro

que dos salários de tristeza

arrecadam lucro inteiro



Lava palácios vivendas

casebres bairros da lata

leva negócios e rendas

que a uns farta e a outros mata



Tejo que levas as águas

correndo de par em par

lava a cidade de mágoas

leva as mágoas para o mar



Lava avenidas de vícios

vielas de amores venais

lava albergues e hospícios

cadeias e hospitais



Afoga empenhos favores

vãs glórias, ocas palmas

leva o poder dos senhores

que compram corpos e almas



Leva nas águas as grades

de aço e silêncio forjadas

deixa soltar-se a verdade

das bocas amordaçadas



Das camas de amor comprado

desata abraços de lodo

rostos corpos destroçados

lava-os com sal e iodo



Tejo que levas as águas

correndo de par em par

lava a cidade de mágoas

leva as mágoas para o mar

(Este belo poema de MANUEL DA FONSECA foi musicado e cantado por Adriano Correia de Oliveira)

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