domingo, 2 de outubro de 2011

A ESSÊNCIA DOS NOSSOS POETAS


SOU BARCO

Sou barco abandonado
Na praia ao pé do mar
E os pensamentos são
Meninos a brincar

Ei-lo que salta bravo
E a onda verde-escura
Desfaz-se em trigo
De raiva e amargura

Ouço o fragor da vaga
Sempre a bater ao fundo,
Escrevo, leio, penso,
Passeio neste mundo
De seis passos
E o mar a bater ao fundo

Agora é todo azul,
Com barras de cinzento,
E logo é verde, verde
Teu brando chamamento

Ó mar, venha a onda forte
Por cima do areal
E os barcos abandonados
Voltarão a Portugal

= António Borges Coelho =


A. B. C. escreveu este poema na sinistra fortaleza de Peniche, quando ali cumpriu 6 anos de prisão, por 'razões' políticas. «Sou Barco» foi musicado por Luís Cília, que o cantou antes e depois do 25 de Abril. Tal como Adriano Correia de Oliveira... A primeira vez que eu ouvi cantar este poema foi na segunda metade dos anos 60 (do século XX, obviamente), em Paris, durante um comício antifascista. 'Meeting' no qual participou, igualmente, o artista espanhol Paco Ibañez. Fui apresentado aos dois por obra e graça de um amigo meu (já falecido), que pertencia à organização dessa manifestação contra as ditaduras ibéricas

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