quarta-feira, 25 de maio de 2011

AFINAL, QUAIS FORAM AS CAUSAS DA MORTE DO PRÍNCIPE PERFEITO ?


(D. João II - «dos seus povos mui querido e dos grandes mui temido»)


(emblema e divisa pessoais do Príncipe Perfeito : um pelicano arrancando carne do seu próprio peito para nutrir os filhos - «Pela Lei e Pela Grei»)

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D. João II, um dos grandes reis da História de Portugal (quiçá o maior de todos eles…), faleceu na vila piscatória de Alvor na tarde de 25 de Outubro de 1495. El-rei contava, então, 40 anos de idade e encontrava-se no Algarve para tentar curar-se, com as reputadas águas das Caldas de Monchique, de doença misteriosa contraída alguns anos atrás.
Aquele a quem chamaram o «Príncipe Perfeito» morreu praticamente sozinho, apenas rodeado e acarinhado por um número restrito de amigos, já que, na difícil hora do passamento, tanto sua esposa D. Leonor de Lencastre, como D. Manuel, duque de Beja (seu primo, cunhado e herdeiro), lhe recusaram a esmola de assistir aos seus últimos momentos. E isso, apesar de muito instados pelo monarca moribundo a empreenderem a viagem até Alvor, de onde o rei de Portugal, definitivamente prostrado pela doença, já não podia sair.
Pretende uma versão quase oficial do evento, que el-rei D. João, o segundo do nome, tenha morrido na sequência de um ‘ataque de uremia’, provocado por uma nefrite crónica. Acontece porém, que essa teoria sobre as causas da morte do mais insigne soberano da dinastia de Avis não toma minimamente em consideração os testemunhos de algumas personalidades idóneas da ‘entourage’ do rei de Portugal, que deixaram transparecer nos seus escritos a probalidade de D. João II ter sido vítima de envenenamento. Assim, o cronista Garcia de Resende, que lidou de perto com o rei, referiu o seguinte : «…depois da morte do Príncipe (Resende refere-se a D. Afonso, único filho legítimo do soberano) daí a poucos dias El-Rei tornou logo a adoecer do mal de que ao diante morreu, e houve suspeitas que foi de peçonha, ficou uma geral presunção que nesta Fonte Coberta lhe fora dada em água que bebeu, a qual presunção e suspeita se confirmou em muitos com as mortes de Fernão de Lima, seu copeiro-mor, e de Estêvão de Sequeira, copeiro, e de Afonso Fidalgo, homem da copa, que, inchados e solutos como El-Rei, antes dele poucos dias todos três faleceram…».
Também Rui de Pina, cronista oficial da corte (cuja obra foi, curiosamente, preservada de olhos indiscretos durante três séculos), escreveu sobre a eventualidade do envenenamento premeditado do rei D. João II nos termos que passamos a citar : «…a qual suspeição não confirmou pouco a morte de Fernão de Lima, seu copeiro-mor e de Estêvão de Sequeira, copeiro pequeno, que inchados e solutos como El-Rei antes dele faleceram. E mais El-Rei por uma mulher ou religiosa de santa vida foi avisado que se guardasse bem de peçonha que lhe ordenavam…».
Face a depoiamentos desta natureza, prestados por pessoas da qualidade dos cronistas supracitados, escusado será dizer que a tal tese quase oficial sobre a morte do rei D. João II, que acima referimos, perde muito da sua consistência e legitimidade. Para apurar a verdade (toda a verdade) sobre o enigmático fim deste ilustre soberano da segunda dinastia portuguesa, porque razão não recorrem os nossos investigadores (como sugere o historiador Alfredo Pinheiro Marques, de cujo livro «Vida e Obra do Príncipe Perfeito D. João II» colhemos alguma da matéria aqui exposta) aos meios modernos de pesquiza que a ciência do século XXI nos oferece ? –Porque razão não se exumam os presumíveis restos mortais do grande monarca do século XV, sepultados no mosteiro de Santa Maria da Vitória (vulgo mosteiro da Batalha) e, depois dos ditos devidamente identificados, se não verifica que os despojos de D. João contêm ou não traços de veneno ? –Tal experiência é hoje perfeitamente viável, graças à fiabilidade de modernos métodos de investigação como o são, por exemplo e entre outros, os revolucionários testes de ADN.
Tais medidas, que se tomariam, como é óbvio, com o aval e sob o controlo das autoridades governamentais competentes na matéria, teriam como principal mérito desempoeirar a nossa História, desembaraçando-a de alguns mistérios que bem mereciam ser estudados e (porque não ?) inteligente e definitivamente solucionados (*).

M.M.S.


D. João II morreu em 25 de Outubro de 1495 na casa do alcaide de Alvor. O rei, que foi 'Príncipe Perfeito', acabou os seus dias...


...junto a uma das praias de onde partiram os navios que projectaram Portugal e a Europa na História Moderna. Graças, em grande parte, ao seu próprio empenho

(*) Este texto foi escrito em 2000 e divulgado em Junho/Julho desse mesmo ano no «Correio Português», jornal publicado em França para a comunidade emigrante

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