sábado, 10 de julho de 2010

OS FILMES DA MINHA VIDA (27)



«INCONQUISTÁVEIS»

FICHA TÉCNICA
Título original : «Unconquered»
Origem : E. U. A.
Género : aventuras
Realização : Cecil B. DeMille
Ano de estreia : 1947
Guião : Charles Bennett, Frederic M. Frank e Jesse L. Lasky
Fotografia (c) : Ray Rennahan
Música : Victor Young
Montagem : Anne Bauchens
Produção : Cecil B. DeMille
Distribuição : Paramount Pictures
Duração : 146 minutos

FICHA ARTÍSTICA
Gary Cooper ………………………………………….………. Christopher Holden
Paulette Goddard …………………………… ..………… Abigail Hale
Howard da Silva ………………………………………...... Martin Garth
Cecil Kellaway …………………………………… ..……..… Jeremy Love
Ward Bond …………………………………………….………. John Fraser
Katherine DeMille …………….…………………..……… Hannah
Mike Mazurki ………………………………………………… Dave Bone
Boris Karloff ……………………………………………..….. Guyasuta
Robert Warwick ………………………… ….……….…… Pontiac
Marc Lawrence ……………………………………… ….…. Sionto
Richard Gaines ……………………………..……………….. coronel George Washington
Alan Napier …………………………………………..……….. William Johnson

SINOPSE
Está-se no ano de 1763. Por ter acorrido em defesa de seu irmão e assassinado (acidentalmente) um soldado do rei, Abigail Hale é condenada à morte por um tribunal de Londres. Atendendo, porém, à juventude da ré e à urgente necessidade de povoar a América do norte, então colónia da coroa britânica, o juiz decide substituir o castigo já pronunciado por uma pena de deportação para o Novo Mundo, acrescida de 14 anos de escravatura.
Cobiçada pelo traficante Martin Garth, Abigail é comprada por um oficial das milícias da Virgínia, num leilão organizado a bordo do navio que os transporta para o outro lado do Atlântico. E logo libertada da sua condição de escrava pelo afortunado e generoso Christopher Holden.
Mas a jovem deportada acaba por cair nas garras do pérfido Garth, na sequência de uma série de mentiras que convence, todavia, as autoridades locais. Raptada, entretanto, pelos índios, Abigail é salva ‘in extremis’ por Chris, graças a um curioso esatratagema.
Apercebendo-se que Martin Garth é um dos instigadores da revolta das nações pele-vermelhas contra os colonos da região, Holden tenta avisar as autoridades dos perigos incorridos pela comunidade branca. Em vão. O capitão de milícias é desautorizado e até acusado dos crimes do rapto da escrava Abigail e de deserção.
Apesar da desconfiança dos seus amigos de outrora, o íntegro e corajoso Christopher Holden vai envidar esforços para salvar a guarnição e os civis de Fort Pitt, assediados pelos índios. Recorrendo a um macabro subterfúgio, o astucioso miliciano obriga o inimigo a romper o cerco e a debandar. Depois da restauração da paz e da sua reabilitação, Christopher Holden vai poder consagrar o seu tempo, todo o seu tempo, ao amor (correspondido) que lhe inspira a bela Abigail.

O MEU COMENTÁRIO
Cecil B. DeMille dizia que o segredo do êxito das suas epopeias fílmicas residia no facto de nelas se narrarem experiências romanescas apaixonantes, tendo como pano de fundo alguns grandes acontecimentos da História. Ora, acontece que «Inconquistáveis» não foge a essa regra do mestre do grande espectáculo cinematográfico. O amor (à primeira vista improvável) entre a pobre deportada Abigail e um rico e aristocrático colono da Virgínia é comovente, mas pura invenção; em contrapartida, o quadro em que se inscreve a acção desta superprodução –inspirada no romance «The Judas Tree», de Neil H. Swanson- é absolutamente verídico.
A propósito do fundo histórico evocado por esta espectacular fita de DeMille, refiro que o desterro para as Américas (mas também para a Austrália, para a África, etc) foi uma constante dos tribunais britânicos dos séculos XVII e XVIII, enquanto alternativa à pena de morte. Sendo o objectivo principal dessa polítiva de degredo, fortalecer as posições dos súbditos da coroa inglesa face às manifestações de legítima rebeldia protagonizadas pelas expoliadas populações autóctones e à ameaça imposta pela França (neste caso específico), potência colonial rival. Mas a política de expatriação dos cidadãos condenados a penas pesadas, também servia, acessoriamente, para desembaraçar Londres e outras grandes urbes das ilhas britânicas de excedentes populacionais socialmente irrecuperáveis ou tidas como tal : assassinos, ladrões, desertores, prostitutas e até alguns contestatários políticos.
Quanto à revolta dos pele-vermelhas ilustrada por DeMille neste filme, é uma alusão clara àquela que Pontiac (poderoso e influente chefe da nação Ottawa) encabeçou no início dos anos 60 do século XVIII contra o domínio dos ingleses. Pontiac conseguiu, então, federar inúmeras tribos indígenas da região dos Grandes Lagos, chegando a sitiar Detroit e a ameaçar seriamente a presença britânica na América setentrional. Isso, naturalmente com o apoio dos franceses. Mas, quando Pontiac se apercebeu, porém, que -na guerra entre potências coloniais europeias- o prato da balança pendia a favor dos ‘casacas vermelhas’, cessou o combate e submeteu-se aos vencedores. Que o assassinaram em 1766.
Esta superprodução de Cecil B. DeMille custou à Paramount a soma astronómica (para a época) de 5 milhões de dólares e foi um dos últimos filmes dessa companhia protagonizados por Gary Cooper. «Inconquistáveis» -que, como muitas outras obras de qualidade, não recebeu só elogios da crítica do tempo- foi, no entanto, uma fita extremamente aplaudida pelo público, obtendo, em consequência desse apreço, um enorme sucesso de bilheteira. Este filme (fascinante) é hoje considerado, a justo título, um clássico do cinema de aventuras.
A película «Inconquistáveis» está recheada de cenas fortes, emotivas, antológicas, que marcaram para sempre a memória de milhões de cinéfilos que, como eu, tiveram a ventura de acompanhar a saga do cinema hollywoodiano dos chamados ‘anos de ouro’. Quem não se lembra, por exemplo, daquela delirante sequência de imagens (em explendoroso technicolor !) que ilustra a perseguição movida pelos índios à canoa ocupada pelo par vedeta desta fita e a aparatoso tombo da embarcação, cascata abaixo, até que um providencial ramo de árvore retenha a queda dos heróis ? –Quem não recorda, igualmente, e também com sentida emoção, a parada final dos soldados mortos, artifício macabro que permitiu a Christopher Holden salvar do massacre que se adivinhava toda a guarnição e refugiados de Fort Pitt ?
Ainda a propósito da rodagem desta película colossal (como tanto as apreciava o seu realizador) lembro que a ‘mise-en-scène’ do ataque ao forte se revestiu de tal realismo, que 30 figurantes foram parar ao hospital com ferimentos e escoriações várias e que ‘miss’ Goddard recusou, categoricamente, participar nessa fase perigosa das filmagens. Este episódio da sua vida profissional traumatizou tanto a vedeta, que, durante algum tempo, a gente de cinema chamou sarcasticamente a esta fita de DeMille «Os Perigos de Paulette».
Seria injusto terminar estas linhas sobre uma das obras mais famosas rodadas em Hollywood durante a primeira metade do século XX, sem mencionar os nomes de actores (todos eles excelentes) como Howard da Silva, Boris Karloff ou Ward Bond, que, também eles, tanto contribuíram para o sucesso de «Inconquistáveis». Ou esquecer a participação de Katharine DeMille –filha adoptiva do cineasta- que interpretou, neste filme, o papel da índia Hannah, a esposa ciumenta do aleivoso Martin Garth.

(M.M.S.)


O capitão Christopher Holden (Gary Cooper, à direita), das milícias da Virgínia, conferencia com as autoridades da colónia


Esta é a cena mais palpitante (e mais surrealista) de «Inconquistáveis» : o famoso episódio da perseguição movida pelos índios à canoa dos heróis da fita


Fim feliz de uma das mais fascinantes películas de aventuras produzidas por Hollywood na primeira metade do século XX


«Ela foi vendida àquele que mais ofereceu !», diz o cartaz...


Este é um dos cartazes norte-americanos que promoveram o filme


E esta a capa do meu DVD de origem francesa. A Espanha também já editou cópia desta obra de Cecil B. DeMille, datada de 1947

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