sexta-feira, 20 de novembro de 2009
OS FILMES DA MINHA VIDA (5)
«PÂNICO NAS RUAS»
FICHA TÉCNICA
Título original : «Panic in the Streets»
Origem : E. U. A.
Género : Policial
Realização : Elia Kazan
Ano de estreia : 1950
Guião : Daniel Fuchs e Richard Murphy
Fotografia (p/b) : Joe MacDonald
Música : Alfred Newman
Montagem : Harmon Jones
Produção : Sol C. Siegel
Distribuição : 20th. Century-Fox
Duração : 96 minutos
FICHA ARTÍSTICA
Richard Widmark ……………………………… Dr. Clinton Reed
Paul Douglas …………………………………….…. Capitão Tom Warren
Barbara Bel Geddes …………………….……. Nancy Reed
Walter Jack Palance …………………....….. Blackie
Zero Mostel …………………………..…………… Fitch
Dan Riss ………………………………………….…… Neff
Alexis Minotis …………………………..………. John Mefaris
Edward Kennedy ……………….………….…… Jordan
Guy Thomajan ………………………………..….. Poldi
Tommy Cook ……………………….……..………. Vince
SINOPSE
Um marinheiro de nacionalidade indefinida, desembarcado clandestinamente em Nova Orleães, é assassinado pelos seus parceiros de póquer. As autoridades sanitárias da cidade, às quais o corpo do estrangeiro é remetido, descobrem (aquando da autópsia) que o cadáver é portador –além de duas balas de revólver- dos germes da peste pneumónica, uma doença extremamente contagiosa e letal.
Devidamente instruídas pelo Dr. Clinton Reed, médico dos serviços sanitários estatais, as autoridades policiais vão lançar os seus melhores agentes na peugada dos criminosos e no rasto de todas as pessoas susceptíveis de os terem aproximado. Segundo Reed -que é um perito na matéria- se toda essa gente não for encontrada e colocada em quarentena nas próximas 48 horas, a cidade corre o risco de ser totalmente contaminada e de ver morrer um número elevado dos seus habitantes.
É nessas dramáticas circunstâncias, que a polícia de Nova Orleães promove uma verdadeira caça ao homem, concentrando as suas buscas nas sujas e mal afamadas vielas do bairro portuário. Warren, um reputado detective, e o Dr. Reed acabam por descobrir o paradeiro de um inquietante trio de malandrins –Blackie, Fitch e Poldi- que, de toda evidência, corresponde ao perfil dos suspeitos.
Um deles vai sucumbir aos efeitos da terrível doença transmitida pelo marinheiro assassinado; um outro é capturado pelas forças de segurança, na sequência de uma movimentada perseguição; e o terceiro homem, Blackie, o assassino do portador da peste pneumónica, tentará, em vão, refugiar-se a bordo de um cargueiro. Será, no entanto, travado nos seus intentos por um dispositivo anti-raticida e cai à água; de onde é prontamente recolhido pela polícia e colocado em quarentena.
A população da grande cidade, que ainda ignora o perigo letal que a ameaçara, pode continuar a viver em paz; e o Dr. Reed –que os deveres profissionais haviam afastado da sua família- regressa finalmente ao lar, cansado, mas satisfeito por ter cumprido o seu dever de médico e de cidadão.
O MEU COMENTÁRIO
«Pânico nas Ruas» foi a sexta fita realizada por Elia Kazan e a primeira obra da sua filmografia que conseguiu obter um franco sucesso junto do público e dos críticos.
Note-se ainda que esta película contribuiu para a renovação do cinema policial hollywoodiano, ao combinar um entrecho deveras original com imagens hiper-realistas captadas não só nos estúdios (como até então exclusivamente se fazia), mas em exteriores, no próprio local onde se desenrolava a acção. Isso (quase) bastou para conferir à obra em causa a força e a autenticidade de um documentário. Tal inovação faria escola e acabaria por servir de base –e de exemplo- ao filme ‘noir’ de factura ianque, que no decorrer da década dos 50 ganharia um fôlego suplementar e uma maior credibilidade. Este filme de Kazan inscreve-se na mesma linha de qualidade que as famosas fitas «Quando a Cidade Dorme» e «Foragidos da Noite», realizadas nesse mesmo ano de 1950 por John Huston e Jules Dassin, respectivamente.
Elia Kazan rodou «Pânico nas Ruas» numa das zonas portuárias mais degradadas da cidade de Nova Orleães, demorando-se na descrição visual de alguns dos sítios mais sórdidos e mais mal afamados desse bairro, onde o essencial da marginalidade local coabitava, na mesma impressionante promiscuidade, com com estivadores e outros trabalhadores dos cais. Segundo rezam as crónicas, o cineasta norte-americano (originário da Arménia) e os seus guionistas e técnicos transgrediram também, nessa ocasião, um outro dogma dos profissionais de Hollywood, ao prescindirem de um plano de trabalho previamente estabelecido. Limitando-se a equipa, como afirmou o próprio Kazan, a plantar as máquinas de filmar nos locais «onde antes nunca alguém vira uma câmara» e a improvisar a história, quotidianamente, ao sabor das ideias e das intuições do momento. Prova real de que os fazedores de telenovelas dos nossos dias nada inventaram…
Refira-se agora, a título de curiosidade, que, com este filme, Elia Kazan deu a oportunidade a Richard Widmark de se safar dos seus tradicionais papéis de ‘mau da fita’ e proporcionou a Jack Palance (ainda referenciado no genérico do filme com o nome de Walter Jack Palance) a possibilidade de trabalhar no cinema pela primeira vez. Outro detalhe importante tem a ver com a presença de Zero Mostel entre os intérpretes de «Pânico nas Ruas». Com efeito, o nome desse conhecido e estimado actor de teatro –notório militante da esquerda política- já constava da célebre ‘Lista Negra’ instituída pelo senador fascisante Joseph McCarthy e pelos seus tristes comparsas. Ora, apesar de não ignorar esse detalhe da vida de Mostel, Kazan acabou por inclui-lo no elenco deste seu trabalho; facto que, hoje, não deixa de surpreender aqueles que conhecem a atitude colaborante do cineasta para com a famigerada Comissão de Actividades Antiamericanas.
Só mais umas palavras para expressar a nossa surpresa sobre o facto de, neste filme, não se vislumbrar um único negro. -Será que a população afro-americana (actualmente maioritária na cidade de Nova Orleães) não estava ali em 1950 ?
(M.M.S.)
cartaz espanhol
Richard Widmark (à direita) é o principal protagonista desta excelente película de Elia Kazan
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