Trabalhei periodicamente num estaleiro naval do Havre, cidade que tem o segundo maior porto de França e um dos maiores da Europa. Esse porto serviu de base (passe o termo militar) ao «France», que era, nesses longínquos anos 60/70 (de um outro século), o mais longo paquete do mundo. Tive a sorte de assistir, um dia, às operações de acomodação deste navio na sua doca seca exclusiva. Uma doca gigantesca (nessa época), já que o navio que justificou a sua construção media 316 metros de comprimento. O «France» foi um dos emblemas da cidade do Havre e até do país; e lembro-me que, quando este símbolo do ‘savoir-faire’ gaulês em matéria de construção naval foi retirado do activo (antes de ser vendido a um armador norueguês), esse acontecimento provocou uma onda de tristeza e de indignação em França. Uma canção –escrita e interpretada por Michel Sardou- até chegou a resumir o estado de alma que, então, ensombrou toda a nação francesa. O estribilho da dita dizia :
Ne m’appelez plus jamais ‘France’
La France m’a laissé tomber
Ne m’appelez plus jamais ‘France’
C’est ma dernière volonté.
E reclamava, numa das suas quadras, um fim mais digno para aquele que fora um gigante dos mares e o embaixador itinerante da nação nas rotas do Atlântico :
Que le plus grand navire de guerre
Ait le courage de me couler
Le cul tourné à Saint Nazaire
Pays breton où je suis né.
Depois de ter navegado, durante uns anos com o nome de «Norway», este explêndido navio (construído para a Compagnie Générale Transatlantique) viu, uma vez mais, o seu nome alterado em 2002. Desta feita para «Blue Lady». A sua demolição, efectuada por um estaleiro especializado de Alang (Índia) terminou no início do ano em curso. Adieu «France»...
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