Faleceu ontem, com 71 anos de idade, a actriz italiana Rosanna Schiaffino. Esta bela mulher do cinema transalpino dos anos 50 e 60 do século passado não era uma comediante excepcional, do nível das suas compatriotas Anna Magnani ou Giulietta Massina, por exemplo. Mas constituíu -ao lado de Sofia Loren, de Gina Lollobrigida, de Silvana Mangano e de Rossana Podestà- um dos grandes atractivos das telas portuguesas de meados da centúria transacta. Os seus filmes (e agora estou a referir-me às cinco beldades supracitadas) eram um fantástico chamariz para os machos lusitanos, simultaneamente frustrados e lúbricos, que acudiam às salas de cinema dos seus bairros de cada vez que os cartazes as anunciavam nas fitas ali em exibição. Essas películas até podiam não ter grande qualidade cinematográfica, as beldades até podiam ser inábeis no desempenho dos seus papéis, mas o importantes, para gáudio da malta e muita inveja das flausinas locais, era exibirem as suas carinhas larocas e, se a censura se distraísse, desvendarem para as plateias portuguesas uma parte dos seus opulentos seios e das suas pernas bem torneadas. É que se estava num tempo e num lugar (é conveniente lembrar) em que essas coisas, hoje banalíssimas, não se desvendavam nem sequer nas praias; onde as senhoras deviam assumir o decoro imposto pela moral salazarista, vestindo austeros fatos-de-banho, e onde até os homens usavam ridículos calções de alças. Nada, pois, a ver com as praias do nosso tempo, onde imperam os ‘strings’ e onde a prática do monokini também já não é coisa rara.
Para ilustrar o que aqui escrevo, quero dizer que me lembro de um amigo, assíduo frequentador do modesto cinema do meu bairro, fazer uma obsessão (que perdura) em relação aos filmes «Arroz Amargo» («Riso Amaro», realizado em 1949 por Giuseppe de Santis) e «A Rapariga do Rio Pó» («La Donna del Fiume», dirigido em 1954 por Mario Soldati). É que as vedetas destas quase esquecidas fitas -de qualidade desigual- eram, respectivamente, Silvana Mangano, no papel de uma provocante mondadeira de arroz, e Sofia Loren, que encarnava a graciosa e sofrida figura de uma cortadora de canas do delta do Pó. E que ambas, por dever de ofício, usavam uns calções suficientemente curtos para lhes deixar as belíssimas pernas ao léu. O que, naturalmente, fascinava o tal companheiro de adolescência.
Enfim, belos tempos esses em que o cinema era vector de sonhos impossíveis, suscitados, muitas vezes, pela presença nas telas dos nossos cinemas de algumas das mais belas e desejadas mulheres do mundo : as estrelas das produções italianas de há meio século atrás...
(As reproduções de cartazes são dos filmes : «A Provocação», com Rosanna Schiaffino; «Helena de Tróia», com Rossana Podestà; «Arroz Amargo», com Silvana Mangano; «Nossa Senhora de Paris», com Gina Lollobrigida; e «Que Pena Seres Vigarista», com Sofia Loren).
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