sábado, 19 de setembro de 2009

VELAS E FITAS

Olhando para a fotografia acima (tirada, muito provavelmente, na transição do século XIX para o século XX), que ilustra uma contenda vélica entre as escunas «Henry Ford» (norte-americana) e «Bluenose» (canadiana), sou forçado a reconhecer que Hollywood nada inventou em matéria de imagens. É que o ‘retrato’ destes veleiros -que, entre duas regatas, também pescavam bacalhau nos Grandes Bancos- faz irresistivelmente pensar em episódios de dois famosos filmes ‘made in USA’ : «Lobos do Mar», melodrama realizado em 1937 por Victor Fleming e «O Mundo nos Seus Braços» (1952), uma fita de aventuras marítimas da autoria de Raoul Walsh. Curiosamente, ambos têm heróis portugueses. O primeiro desses filmes (inspirado num conhecido livro de Rudyard Kipling, Prémio Nobel da Literatura em 1907) dá relevo à simpática figura do madeirense Manuel, um homem com o coração do tamanho do mundo, que toma sob a sua generosa protecção um menino rico e mimado. Menino hostilizado por toda a tripulação do pesqueiro que o recolhe em alto mar, depois da sua queda acidental de um paquete de luxo. O actor que encarna Manuel -nesta película de grande qualidade produzida pela M.G.M.- é Spencer Tracy, que até ganhou o Óscar de melhor actor, pela sua impecável interpretação do papel do português. O segundo filme (produzido pelos estúdios Universal) é baseado num romance de Rex Beach e foi adaptado ao cinema pelo famoso guionista Borden Chase. A sua acção situa-se por volta de 1850, entre o porto de San Francisco e as costas do Alasca, a ‘Rússia da América’. O ‘rapaz’ (nome dado ao herói nos meus tempos de menino) é o garboso Gregory Peck, um caçador de focas, que desafia o poderio czarista pelos belos olhos de uma linda aristocrata (Ann Blyth). O ‘Português’ é o excelente actor Anthony Quinn, proprietário da escuna «Santa Isabela» (sic), que, depois de ter afrontado o herói da fita, se une ao Homem de Boston (alcunha de Peck) para dar cabo do canastro aos eslavos e facilitar o casamento do seu antigo rival com a beldade de serviço. A propósito desta última película, recordo-me de tê-la visto, pela primeira vez, na esplanada do Luso, um cinema ao ar livre da então vila do Barreiro. –Ai que saudades desse tempo meus amigos...

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